Predestinação

De todas as doutrinas da fé cristã, com certeza uma das mais intrigantes e menos compreendidas é a da predestinação. Para muitos, ela parece obscura e até bizarra. Para outros, parece uma investigação desnecessária sobre algo que excede a capacidade da compreensão humana. Entende-se que tal minúcia teológica possui pouco ou nenhum significado prático. Mas uma vez que a revelação bíblica a menciona, o cristão não tem opção, a não ser indagar seu significado. O fato de ser uma doutrina difícil e obscura não nos exime da necessidade de estudá-la em profundidade e refletir sobre ela a fim de determinar a verdade nela contida.

É necessário definir com precisão o significado do termo predestinação. Embora alguns o usem de forma intercambiável como “preordenação” e “eleição”, para nossos propósitos aqui “predestinação” é um ponto intermediário em especificidade entre “preordenação” e “eleição”. “Preordenação” , conforme se vê na Figura abaixo, é o termo mais abrangente, denotando a vontade de DEUS com respeito a tudo o que ocorre, seja o destino de cada indivíduo humano, seja a queda de uma pedra. “Predestinação” refere-se à escolha divina de indivíduos para a vida eterna ou para a morte eterna. “Eleição” é a seleção de alguns para a vida eterna, o lado positivo da predestinação; “reprovação” é o
lado negativo.

Figura: A terminologia da predestinação

Concepções diferentes de predestinação

O calvinismo
Embora a doutrina da predestinação tenha sido desenvolvido por vários teólogos desde Agostinho até Karl Barth, as formulações contratantes de João Calvino e Jacó Armínio são as que abordam com maior clareza suas questões básicas. O que se designa por calvinismo tem assumido muitas formas ao longo dos anos. Examinaremos aqui certos aspectos comuns encontrados em todas elas. Um auxílio mnemônico em inglês, às vezes usado para resumir o sistema como um todo, é o acrônimo TULIP: Total depravity, Unconditional predestination, Limited atonement, Irresistible grace e Perseverance (depravação total, predestinação incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança). Embora haja interpretações levemente variadas dessas expressões e nem todos esses conceitos sejam essenciais para nossas considerações presentes, vamos adotá-las como base para nossa análise da concepção calvinista da predestinação.

Os calvinistas entendem que toda raça humana está perdida no pecado. Eles destacam o conceito de depravação total: todo indivíduo é tão pecador que é incapaz de responder a qualquer oferta de graça. Essa condição, que merecemos plenamente, implica corrupção moral (e, portanto, incapacidade moral) e também possibilidade ao julgamento (culpa). Todas as pessoas começam a vida nessa condição. Por esse motivo, é chamado “pecado original”. Ás vezes, a expressão “incapacidade total” é usada para descrever a condição humana. Essa terminologia salienta que os pecadores perderam a capacidade de fazer o bem e são incapazes de se converter. Numerosas passagens indicam tanto a universalidade quanto a seriedade dessa condição (e.g., Jo 6.44; Rm 3.1-23; 2Co 4.3,4 e, especialmente, Ef 2.1-3).

O segundo conceito importante do calvinismo é a soberania de DEUS. Ele é o Criador e o Senhor de todas as coisas e, por conseguinte, é livre para fazer tudo o que deseja. Ele não está sujeito nem deve explicações a ninguém. Os homens não estão em posição de julgar a DEUS por aquilo que ele faz. Uma das passagens citadas com freqüência nessa discussão é a parábola dos trabalhadores na vinha. Os que foram contratados na undécima hora receberam o mesmo pagamento prometido aos contratados no início do dia. Quando os que foram contratados mais cedo reclamaram da aparente injustiça, o senhor respondeu a um deles: “Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? (Mt. 20.13-15). Outra passagem significativa é a metáfora de Paulo sobre o oleiro e o barro. Para o indivíduo que reclama da injustiça de DEUS, Paulo responde: “Quem és tu, ó homem, para discutires com DEUS?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso novo para honra e outro, para desonra?” (Rm. 20,21). Esse conceito de soberania divina, juntamente com a incapacidade humana, é básico para a doutrina calvinista da eleição.

A Eleição, de acordo com o calvinismo, é a escolha que DEUS faz de certas pessoas para seu favor especial. Isso pode dizer respeito à escolha de Israel como povo da aliança especial de DEUS ou à escolha de indivíduos para algum ofício especial. O aspecto de nosso interesse principal aqui, no entanto, é a escolha de certas pessoas para serem filhos espirituais de DEUS e, portanto, para receberem a vida eterna. Uma prova bíblica de que DEUS selecionou certos indivíduos para a vida eterna. Uma prova bíblica de que DEUS selecionou certos indivíduos para a salvação encontra-se em Efésios 1.4,5: “[ O Pai] nos escolheu, nele [Jesus Cristo], antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Jesus indicou que a iniciativa fora sua na seleção dos discípulos para a vida eterna: “Não fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto ermaneça” (Jo 15.16). Além disso, todos os que são dados a Jesus pelo Pai irão a ele: “Todo aquele que o pai me dá, esse virá a mim: e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).

A interpretação de que a escolha ou a seleção que DEUS faz de certas pessoas para a salvação é absoluta ou incondicional está em harmonia com os atos de DEUS em outros contextos, tais como sua escolha da nação de Israel, que ocorreu pela seleção de Jacó e a rejeição de Esaú. Em Romanos 9, Paulo argumenta com vigor que todas essas escolhas pertencem totalmente a DEUS e não dependem, de modo algum, das pessoas escolhidas. Tendo citado a declaração de DEUS a Moisés em Êxodo 33.19, “Terei misericórdia de quem me aprouver Ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver Ter compaixão”, Paulo comenta: “Assim pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar DEUS a sua misericórdia” (Rm 9.15,16).

Já vimos várias características da eleição conforme entendem os calvinistas. Uma é que a eleição é uma expressão da vontade soberana ou do beneplácito de DEUS. Ela não se baseia em algum mérito do eleito. Também não se baseia na previsão de que a pessoa virá a crer. É a causa, não resultado, da fé. A Segunda é que a eleição é eficaz. Os que foram escolhidos por DEUS com certeza virão a crer nele e, também, perseverarão nessa fé até o fim. Todos os eleitos serão com certeza salvos. A terceira é que a eleição foi feita desde a eternidade. Não é uma decisão tomada em algum ponto do tempo em que o indivíduo já existe. Trata-se do que DEUS sempre se propôs fazer. A Quarta é que a eleição é incondicional. Ela não exige que os seres humanos realizem atos específicos ou preencham certas condições ou ordens de DEUS. Não é que DEUS deseja salvar as pessoas, caso façam algumas coisas. Ele simplesmente deseja salvá-las e o faz. Por fim a eleição é imutável. DEUS não muda de idéia. A eleição vem desde as eternidade e brota da misericórdia infinita de DEUS; ele não tem motivos nem ocasião para mudar de idéia.

Em sua maioria, os calvinistas alegam que a eleição é incoerente com o livre arbítrio, ou seja, segundo entendem o termo. Negam, entretanto, que os homens tenham livre arbítrio no sentido arminiano. O que os calvinistas destacam é que o pecado retirou, se não a liberdade, pelo menos a capacidade de exercer devidamente a liberdade. Loraine Boettner, por exemplo, compara a humanidade decaída a uma ave de asa quebrada. A ave é “livre” para voar, mas não é capaz de fazê-lo. Da mesma forma, “o homem natural é livre para chegar a DEUS, mas não é capaz de fazê-lo. Como pode se arrepender do pecado se ama o pecado? Como pode chegar a DEUS se odeia a DEUS? Essa é a incapacidade da vontade sob a qual luta o homem”. É apenas quando DEUS chega em sua graça especial aos que escolheu, que eles são capazes de atender.

Uma área em que há variações entre os calvinistas é o conceito de reprovação. Alguns sustentam a dupla predestinação, a crença de que DEUS escolhe alguns para a salvação e outros para a perdição. Outros dizem que DEUS na realidade escolhe os que receberão a vida eterna e passa ao largo dos outros, deixando-os nos pecados que eles mesmos escolhem. O efeito é o mesmo em ambos os casos, mas a segunda concepção atribui a perdição dos não eleitos à sua própria escolha do pecado, não a uma decisão ativa de DEUS ou a uma escolha divina por omissão, em vez de comissão.

O arminianismo
Arminianismo é um termo que cobre grande número de subposições. Ele cobre desde as concepções evangélica do próprio Armínio até o liberalismo de esquerda. O Arminianismo também inclui o catolicismo romano convencional com ênfase na necessidade de obras no processo de salvação. Na maior parte dos casos, vamos considerar a forma mais conservadora ou evangélica do arminianismo, mas vamos construí-la de modo suficientemente amplo que comporte a posição de quase todos os arminianos.

Embora as formações da concepção arminiana contenha certo grau de variação, existe um ponto de partida lógico: o conceito de que DEUS deseja que todos sejam salvos. Os arminianos destacam certas afirmações das Escrituras. Que DEUS não se compraz com a morte do pecador se evidencia na afirmação de Pedro: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). Paulo ecoa um sentimento semelhante: “DEUS, nosso salvador, [...] deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.3,4 veja tb. Ez 33.11; At 17.30,31).

Não é apenas em declarações didáticas, mas no caráter universal de muitos dos mandamentos e exortações de DEUS que vemos seu desejo de que toda a raça humana seja salva. O Antigo Testamento contém convites universais; por exemplo:” Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei” (Is.55.1). O convite de Jesus era semelhantemente irrestrito: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt. 11.28). Se, ao contrário do que esses versículos parecem implicar, DEUS não tem intenção de salvar todas as pessoas, deve estar sendo insincero em sua oferta.

A Segunda concepção importante do arminianismo é que todas as pessoas são capazes de crer ou de preencher as condições para serem salvas. Não fosse assim, os convites universais à salvação não teria sentido. Mas será que a teologia comporta o conceito de que todas as pessoas são capazes de crer? Comporta, se modificarmos ou eliminarmos a idéia da depravação total dos pecados. Ou, como John Wesley ou outros, podemos adotar o conceito da “graça preveniente”. É esta posição posterior que ocupará nossa atenção aqui.

Conforme se costuma compreender, a graça preveniente é a graça dada por DEUS a todas as pessoas, indiscriminadamente. Ela é vista no fato de DEUS enviar sol e a chuva sobre todos. É também a base de toda a bondade encontrada nas pessoas em todos os lugares. Além disso, ela é dada universalmente para contra-atacar o efeito do pecado. Já que DEUS deu essa graça a todos, todos são capazes de aceitar a oferta da salvação: por conseguinte, não há necessidade de nenhuma aplicação especial da graça de DEUS a indivíduos em particular.

O terceiro conceito básico é o lugar da presciência na eleição das pessoas para a salvação. Em sua maioria, os arminianos desejam conservar o termo eleição e a idéia de que os indivíduos são preordenados para a salvação. Isso significa que DEUS deve preferir algumas pessoas a outra. Na concepção arminiana, ele escolhe algumas para que recebam a salvação, enquanto apenas passa ao largo das outras. Os que são predestinados por DEUS são os que, por seu infinito conhecimento, consegue prever que aceitarão a oferta da salvação feita por Jesus Cristo. Essa concepção é baseada na estreia relação apresentada pelas Escrituras entre a presciência e a preordenação ou predestinação. A passagem básica a que se recorre é Romanos 8.29: “Portanto aos que de antemão conheceu, também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Um texto de apoio é 1Pedro 1.1.2, em que Pedro dirige-se aos “eleitos, segundo a presciência de DEUS pai”. Ambas as referências dão a entender que a preordenação é baseada na presciência e dela resulta.

Por fim, os arminianos levantam objeções contra a concepção calvinista de que a predestinação seja incondicional ou absoluta. Algumas delas são práticas e não teóricas quando à natureza. Muitas delas reduzem-se à natureza. Muitas delas reduzem-se à idéia de que o calvinismo é fatalista. Se DEUS determinou tudo que irá ocorrer, aquilo que os homens fazem realmente provocam alguma diferença? O comportamento ético torna-se irrelevante. Se somos eleitos, tem alguma importância a maneira pela qual vivemos? Seremos salvos independentemente de nossas ações.

Outra objeção é que o calvinismo nega todo e qualquer impulso missionário ou evangelístico. Se DEUS já escolheu quem será salvo e o número deles não pode ser aumentado, por que pregar o evangelho? Os eleitos serão salvos de todo jeito, e aquele número exato de escolhidos, nem um a mais nem a menos, virá a Cristo. Portanto, por que se preocupar em levantar fundos, enviar missionários, pregar o evangelho ou orar pelos perdidos? Tais atividades são, com certeza, exercícios vãos.

A última objeção é que a doutrina calvinista é uma contradição da liberdade humana. Os pensamentos que temos, as escolhas que fazemos e as ações que realizamos não são de fato nossos. Não são livres, mas causados por uma força externa, a saber, DEUS. E, portanto, não somos de fato humanos no sentido tradicional da palavra. Somos autômatos, robôs ou máquinas. Isso, porém, contradiz tudo o que sabemos sobre nós mesmos e a maneira pela qual também vemos os outros. Não há motivo para DEUS nos elogiar por termos feito o bem ou nos censurar por termos feito o mal, pois não podíamos fazer diferente.

Uma proposta de solução
Agora precisamos tentar chegar a algumas conclusões sobre essa questão intrincada dos decretos de DEUS com respeito à salvação. Note que não estamos lidando aqui com toda a questão dos decretos de DEUS em geral. Em outras palavras, não estamos considerando se DEUS torna certos todos os eventos que ocorrem em todos os tempos e em todo o universo. Estamos interessados apenas em discutir se alguns são destacados por DEUS para serem receptores especiais de sua graça.

Começamos com uma análise dos dados bíblicos. As Escrituras falam da eleição em vários sentidos diferentes. Eleição às vezes refere-se à escolha que DEUS faz de Israel como seu povo especial, sob seu favor. Ocasionalmente, indica a seleção de indivíduos para posições especiais de privilégio e serviço e, claro, a seleção para a salvação. Em razão dos vários significados de eleição, qualquer tentativa de limitar nossa discussão a apenas um deles resultará, inevitavelmente, no truncamento do tópico.

Antes de investigar o ensino bíblico de que DEUS escolheu especialmente a alguns para que tenham vida eterna, é importante considerar o retrato pungente que a Bíblia faz do homem: perdido, cego e incapaz, em seu estado natural, de responder com fé à oportunidade de salvação. Em Romanos, em especial no capítulo 3, Paulo retrata a raça humana desesperadamente separada de DEUS por causa do pecado. Os homens são incapazes de fazer alguma coisa para se desvencilhar dessa condição e, aliás, sendo bem cegos quanto à sua situação, não têm sequer o desejo de fazê-lo. Os calvinistas e os arminianos conservadores concordam nesse ponto. Não é apenas que os homens em seu estado natural não conseguem fazer boas obras do tipo que possam justificá-los diante de DEUS. Além disso, somos afligidos pela cegueira espiritual (Rm 1.18-23; 2Co 4.3,4) e pela insensibilidade.

Por essa razão, segue-se que ninguém atenderia ao apelo do evangelho sem uma ação especial de DEUS. É neste ponto que muitos arminianos, reconhecendo a incapacidade humana conforme ensinada na Escritura, introduzem o conceito de graça preveniente, que teria efeito universal, anulando os resultados noéticos do pecado, tornando, então, possível a fé. O problema é que não há nenhuma base clara adequada na Escritura para esse conceito de capacitação universal. A teoria, embora atraente em muitos aspectos, simplesmente não é ensinada de forma explícita na Bíblia.

Voltamos à questão de por que alguns crêem, encontramos uma coleção impressionante de textos que dão a entender que DEUS selecionou alguns para a salvação e que nossa resposta à oferta da salvação depende dessa decisão e iniciativa anteriores de DEUS. Por exemplo, ligado à explicação de Jesus de que falava por meio de parábolas de modo que alguns ouvissem mas não entendessem, observamos que ele continua, dizendo aos discípulos: “Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mt. 13.16). Pode-se entender, com isso, que eles não eram tão incapazes, no aspecto espiritual, quanto os outros ouvintes. Mas podemos captar melhor o que se implica aqui observando Mateus 16. Jesus havia perguntado Aos discípulos sobre o que as pessoas diziam a respeito dele, e eles havia citado várias opiniões – João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas (v.14). Pedro, porém, confessou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (v.16). O comentário de Jesus é instrutivo: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (v.17). Foi uma ação especial de DEUS que fez a diferença entre os discípulos e os espiritualmente cegos e surdos. Isso está de acordo com as afirmações de Jesus: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44) e “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). Jesus também nos diz que essa condução e escolha são eficazes: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”(Jo.637). “Todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (v.45). O conceito de que Lucas nos diz que quando os gentios de Antioquia da Psídia ouviram da salvação, “regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que havia sido destinados para a vida eterna” (At. 13.48).

Além disso, o argumento arminiano de que a preordenação de DEUS é baseada em sua presciência não é persuasivo, pois a palavra hebraica yãda, que parece estar por trás das referências à “presciência” em Romanos 8.29 e 1pedro 1.1,2, significa mais que um conhecimento prévio. Ela carrega a conotação de um relacionamento muito positivo e íntimo. Insinua uma demonstração de favor ou de amor a alguém, sendo usada até mesmo para relações sexuais. O que se tem em vista, portanto, não é um conhecimento prévio neutro daquilo que alguém fará, mas uma escolha ativa daquela pessoa. Contra esse fundo hebraico, parece provável que as referências à predestinação em Romanos e 1 Pedro estão apresentando a presciência não como base da predestinação, mas como sua confirmação.

Mas que dizer das ofertas universais da salvação e dos convites gerais aos ouvintes para que creiam? Os arminianos às vezes alegam que, pelos argumentos calvinistas, alguém pode resolver aceitar a salvação, mas ser impedido de se salvar. Mas de acordo com o entendimento calvinista, essa cena nunca ocorre, pois ninguém é capaz de desejar ser salvo, chegar a DEUS e crer, sem uma capacitação especial. DEUS oferece sinceramente a salvação a todos, mas todos nós estamos tão estabelecidos em nossos pecados, que não atendemos, a menos que sejamos assistidos.

Existe liberdade real em uma situação dessas? Aqui retemos o leitor à nossa discussão geral sobre a liberdade humana em relação ao plano de DEUS (cap.12). Também precisamos notar, entretanto, que agora estamos lidando especificamente com a capacidade espiritual ou a liberdade de escolha com respeito á questão crucial da salvação. E aqui a consideração principal é a depravação. Se, como alegamos, os homens no estado irregenerado são totalmente incapazes de corresponder à graça de DEUS, não se discute se eles são livres para aceitar a oferta da salvação – ninguém é! Antes, a pergunta é: alguém que receba um chamado especial tem liberdade para rejeitar a graça oferecida? A posição tomada aqui não é de que os chamados sejam obrigados a atender, mas que DEUS, torna tão atraente a oferta, que eles desejam responder afirmativamente.

Implicações da predestinação
Corretamente compreendida, a doutrina da predestinação tem algumas implicações significativas:

  1. Podemos Ter confiança de que aquilo que foi decidido por DEUS ocorrerá. Seu plano será cumprido e os eleitos chegarão à fé.
  2. Não precisamos nos criticar quando alguns rejeitam a CRISTO. Jesus mesmo não ganhou todos os ouvintes. Ele compreendia que todos os que o Pai lhe havia dado viriam a ele (Jo 6.37) e que apenas aqueles viriam (v.44). Depois de fazermos o melhor, podemos confiar a questão ao Senhor.
  3. A predestinação não anula o incentivo para a evangelização e as missões. Não sabemos quem são os eleitos e os não eleitos, portanto, precisamos continuar a divulgar a Palavra. Nossos esforços evangelístico são os meios que DEUS usa para levar a salvação aos eleitos. A ordenação de DEUS para o fim também inclui a ordenação dos meios para atingir tal fim. O
    conhecimento de que as missões são o meio de DEUS é uma forte motivação para o empenho e nos dá confiança de que será bem-sucedido.
  4. A graça é absolutamente necessária. Embora os arminianos dêem, muitas vezes, grande ênfase à graça, em nosso esquema calvinista não há base para DEUS escolher alguém para a vida eterna, a não ser sua vontade soberana. Não há nada no indivíduo que persuada a DEUS a garantia a garantir sua salvação.

BIBLIOGRAFIA:
Introdução à Teologia Sistemática. Erickson, Millard J. Trad. Luci Yamakami. Ed. Vida Nova – São Paulo. 1ª edição 1997. Reimpressões 1998,1999.

Obs. O conteúdo acima é uma cópia sem citações bibliográficas do cap. 32 do livro acima.

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