Predestinação

De todas as doutrinas da fé cristã, com certeza uma das mais intrigantes e menos compreendidas é a da predestinação. Para muitos, ela parece obscura e até bizarra. Para outros, parece uma investigação desnecessária sobre algo que excede a capacidade da compreensão humana. Entende-se que tal minúcia teológica possui pouco ou nenhum significado prático. Mas uma vez que a revelação bíblica a menciona, o cristão não tem opção, a não ser indagar seu significado. O fato de ser uma doutrina difícil e obscura não nos exime da necessidade de estudá-la em profundidade e refletir sobre ela a fim de determinar a verdade nela contida.

É necessário definir com precisão o significado do termo predestinação. Embora alguns o usem de forma intercambiável como “preordenação” e “eleição”, para nossos propósitos aqui “predestinação” é um ponto intermediário em especificidade entre “preordenação” e “eleição”. “Preordenação” , conforme se vê na Figura abaixo, é o termo mais abrangente, denotando a vontade de DEUS com respeito a tudo o que ocorre, seja o destino de cada indivíduo humano, seja a queda de uma pedra. “Predestinação” refere-se à escolha divina de indivíduos para a vida eterna ou para a morte eterna. “Eleição” é a seleção de alguns para a vida eterna, o lado positivo da predestinação; “reprovação” é o
lado negativo.

Figura: A terminologia da predestinação

Concepções diferentes de predestinação

O calvinismo
Embora a doutrina da predestinação tenha sido desenvolvido por vários teólogos desde Agostinho até Karl Barth, as formulações contratantes de João Calvino e Jacó Armínio são as que abordam com maior clareza suas questões básicas. O que se designa por calvinismo tem assumido muitas formas ao longo dos anos. Examinaremos aqui certos aspectos comuns encontrados em todas elas. Um auxílio mnemônico em inglês, às vezes usado para resumir o sistema como um todo, é o acrônimo TULIP: Total depravity, Unconditional predestination, Limited atonement, Irresistible grace e Perseverance (depravação total, predestinação incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança). Embora haja interpretações levemente variadas dessas expressões e nem todos esses conceitos sejam essenciais para nossas considerações presentes, vamos adotá-las como base para nossa análise da concepção calvinista da predestinação.

Os calvinistas entendem que toda raça humana está perdida no pecado. Eles destacam o conceito de depravação total: todo indivíduo é tão pecador que é incapaz de responder a qualquer oferta de graça. Essa condição, que merecemos plenamente, implica corrupção moral (e, portanto, incapacidade moral) e também possibilidade ao julgamento (culpa). Todas as pessoas começam a vida nessa condição. Por esse motivo, é chamado “pecado original”. Ás vezes, a expressão “incapacidade total” é usada para descrever a condição humana. Essa terminologia salienta que os pecadores perderam a capacidade de fazer o bem e são incapazes de se converter. Numerosas passagens indicam tanto a universalidade quanto a seriedade dessa condição (e.g., Jo 6.44; Rm 3.1-23; 2Co 4.3,4 e, especialmente, Ef 2.1-3).

O segundo conceito importante do calvinismo é a soberania de DEUS. Ele é o Criador e o Senhor de todas as coisas e, por conseguinte, é livre para fazer tudo o que deseja. Ele não está sujeito nem deve explicações a ninguém. Os homens não estão em posição de julgar a DEUS por aquilo que ele faz. Uma das passagens citadas com freqüência nessa discussão é a parábola dos trabalhadores na vinha. Os que foram contratados na undécima hora receberam o mesmo pagamento prometido aos contratados no início do dia. Quando os que foram contratados mais cedo reclamaram da aparente injustiça, o senhor respondeu a um deles: “Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? (Mt. 20.13-15). Outra passagem significativa é a metáfora de Paulo sobre o oleiro e o barro. Para o indivíduo que reclama da injustiça de DEUS, Paulo responde: “Quem és tu, ó homem, para discutires com DEUS?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso novo para honra e outro, para desonra?” (Rm. 20,21). Esse conceito de soberania divina, juntamente com a incapacidade humana, é básico para a doutrina calvinista da eleição.

A Eleição, de acordo com o calvinismo, é a escolha que DEUS faz de certas pessoas para seu favor especial. Isso pode dizer respeito à escolha de Israel como povo da aliança especial de DEUS ou à escolha de indivíduos para algum ofício especial. O aspecto de nosso interesse principal aqui, no entanto, é a escolha de certas pessoas para serem filhos espirituais de DEUS e, portanto, para receberem a vida eterna. Uma prova bíblica de que DEUS selecionou certos indivíduos para a vida eterna. Uma prova bíblica de que DEUS selecionou certos indivíduos para a salvação encontra-se em Efésios 1.4,5: “[ O Pai] nos escolheu, nele [Jesus Cristo], antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Jesus indicou que a iniciativa fora sua na seleção dos discípulos para a vida eterna: “Não fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto ermaneça” (Jo 15.16). Além disso, todos os que são dados a Jesus pelo Pai irão a ele: “Todo aquele que o pai me dá, esse virá a mim: e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).

A interpretação de que a escolha ou a seleção que DEUS faz de certas pessoas para a salvação é absoluta ou incondicional está em harmonia com os atos de DEUS em outros contextos, tais como sua escolha da nação de Israel, que ocorreu pela seleção de Jacó e a rejeição de Esaú. Em Romanos 9, Paulo argumenta com vigor que todas essas escolhas pertencem totalmente a DEUS e não dependem, de modo algum, das pessoas escolhidas. Tendo citado a declaração de DEUS a Moisés em Êxodo 33.19, “Terei misericórdia de quem me aprouver Ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver Ter compaixão”, Paulo comenta: “Assim pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar DEUS a sua misericórdia” (Rm 9.15,16).

Já vimos várias características da eleição conforme entendem os calvinistas. Uma é que a eleição é uma expressão da vontade soberana ou do beneplácito de DEUS. Ela não se baseia em algum mérito do eleito. Também não se baseia na previsão de que a pessoa virá a crer. É a causa, não resultado, da fé. A Segunda é que a eleição é eficaz. Os que foram escolhidos por DEUS com certeza virão a crer nele e, também, perseverarão nessa fé até o fim. Todos os eleitos serão com certeza salvos. A terceira é que a eleição foi feita desde a eternidade. Não é uma decisão tomada em algum ponto do tempo em que o indivíduo já existe. Trata-se do que DEUS sempre se propôs fazer. A Quarta é que a eleição é incondicional. Ela não exige que os seres humanos realizem atos específicos ou preencham certas condições ou ordens de DEUS. Não é que DEUS deseja salvar as pessoas, caso façam algumas coisas. Ele simplesmente deseja salvá-las e o faz. Por fim a eleição é imutável. DEUS não muda de idéia. A eleição vem desde as eternidade e brota da misericórdia infinita de DEUS; ele não tem motivos nem ocasião para mudar de idéia.

Em sua maioria, os calvinistas alegam que a eleição é incoerente com o livre arbítrio, ou seja, segundo entendem o termo. Negam, entretanto, que os homens tenham livre arbítrio no sentido arminiano. O que os calvinistas destacam é que o pecado retirou, se não a liberdade, pelo menos a capacidade de exercer devidamente a liberdade. Loraine Boettner, por exemplo, compara a humanidade decaída a uma ave de asa quebrada. A ave é “livre” para voar, mas não é capaz de fazê-lo. Da mesma forma, “o homem natural é livre para chegar a DEUS, mas não é capaz de fazê-lo. Como pode se arrepender do pecado se ama o pecado? Como pode chegar a DEUS se odeia a DEUS? Essa é a incapacidade da vontade sob a qual luta o homem”. É apenas quando DEUS chega em sua graça especial aos que escolheu, que eles são capazes de atender.

Uma área em que há variações entre os calvinistas é o conceito de reprovação. Alguns sustentam a dupla predestinação, a crença de que DEUS escolhe alguns para a salvação e outros para a perdição. Outros dizem que DEUS na realidade escolhe os que receberão a vida eterna e passa ao largo dos outros, deixando-os nos pecados que eles mesmos escolhem. O efeito é o mesmo em ambos os casos, mas a segunda concepção atribui a perdição dos não eleitos à sua própria escolha do pecado, não a uma decisão ativa de DEUS ou a uma escolha divina por omissão, em vez de comissão.

O arminianismo
Arminianismo é um termo que cobre grande número de subposições. Ele cobre desde as concepções evangélica do próprio Armínio até o liberalismo de esquerda. O Arminianismo também inclui o catolicismo romano convencional com ênfase na necessidade de obras no processo de salvação. Na maior parte dos casos, vamos considerar a forma mais conservadora ou evangélica do arminianismo, mas vamos construí-la de modo suficientemente amplo que comporte a posição de quase todos os arminianos.

Embora as formações da concepção arminiana contenha certo grau de variação, existe um ponto de partida lógico: o conceito de que DEUS deseja que todos sejam salvos. Os arminianos destacam certas afirmações das Escrituras. Que DEUS não se compraz com a morte do pecador se evidencia na afirmação de Pedro: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). Paulo ecoa um sentimento semelhante: “DEUS, nosso salvador, [...] deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.3,4 veja tb. Ez 33.11; At 17.30,31).

Não é apenas em declarações didáticas, mas no caráter universal de muitos dos mandamentos e exortações de DEUS que vemos seu desejo de que toda a raça humana seja salva. O Antigo Testamento contém convites universais; por exemplo:” Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei” (Is.55.1). O convite de Jesus era semelhantemente irrestrito: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt. 11.28). Se, ao contrário do que esses versículos parecem implicar, DEUS não tem intenção de salvar todas as pessoas, deve estar sendo insincero em sua oferta.

A Segunda concepção importante do arminianismo é que todas as pessoas são capazes de crer ou de preencher as condições para serem salvas. Não fosse assim, os convites universais à salvação não teria sentido. Mas será que a teologia comporta o conceito de que todas as pessoas são capazes de crer? Comporta, se modificarmos ou eliminarmos a idéia da depravação total dos pecados. Ou, como John Wesley ou outros, podemos adotar o conceito da “graça preveniente”. É esta posição posterior que ocupará nossa atenção aqui.

Conforme se costuma compreender, a graça preveniente é a graça dada por DEUS a todas as pessoas, indiscriminadamente. Ela é vista no fato de DEUS enviar sol e a chuva sobre todos. É também a base de toda a bondade encontrada nas pessoas em todos os lugares. Além disso, ela é dada universalmente para contra-atacar o efeito do pecado. Já que DEUS deu essa graça a todos, todos são capazes de aceitar a oferta da salvação: por conseguinte, não há necessidade de nenhuma aplicação especial da graça de DEUS a indivíduos em particular.

O terceiro conceito básico é o lugar da presciência na eleição das pessoas para a salvação. Em sua maioria, os arminianos desejam conservar o termo eleição e a idéia de que os indivíduos são preordenados para a salvação. Isso significa que DEUS deve preferir algumas pessoas a outra. Na concepção arminiana, ele escolhe algumas para que recebam a salvação, enquanto apenas passa ao largo das outras. Os que são predestinados por DEUS são os que, por seu infinito conhecimento, consegue prever que aceitarão a oferta da salvação feita por Jesus Cristo. Essa concepção é baseada na estreia relação apresentada pelas Escrituras entre a presciência e a preordenação ou predestinação. A passagem básica a que se recorre é Romanos 8.29: “Portanto aos que de antemão conheceu, também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Um texto de apoio é 1Pedro 1.1.2, em que Pedro dirige-se aos “eleitos, segundo a presciência de DEUS pai”. Ambas as referências dão a entender que a preordenação é baseada na presciência e dela resulta.

Por fim, os arminianos levantam objeções contra a concepção calvinista de que a predestinação seja incondicional ou absoluta. Algumas delas são práticas e não teóricas quando à natureza. Muitas delas reduzem-se à natureza. Muitas delas reduzem-se à idéia de que o calvinismo é fatalista. Se DEUS determinou tudo que irá ocorrer, aquilo que os homens fazem realmente provocam alguma diferença? O comportamento ético torna-se irrelevante. Se somos eleitos, tem alguma importância a maneira pela qual vivemos? Seremos salvos independentemente de nossas ações.

Outra objeção é que o calvinismo nega todo e qualquer impulso missionário ou evangelístico. Se DEUS já escolheu quem será salvo e o número deles não pode ser aumentado, por que pregar o evangelho? Os eleitos serão salvos de todo jeito, e aquele número exato de escolhidos, nem um a mais nem a menos, virá a Cristo. Portanto, por que se preocupar em levantar fundos, enviar missionários, pregar o evangelho ou orar pelos perdidos? Tais atividades são, com certeza, exercícios vãos.

A última objeção é que a doutrina calvinista é uma contradição da liberdade humana. Os pensamentos que temos, as escolhas que fazemos e as ações que realizamos não são de fato nossos. Não são livres, mas causados por uma força externa, a saber, DEUS. E, portanto, não somos de fato humanos no sentido tradicional da palavra. Somos autômatos, robôs ou máquinas. Isso, porém, contradiz tudo o que sabemos sobre nós mesmos e a maneira pela qual também vemos os outros. Não há motivo para DEUS nos elogiar por termos feito o bem ou nos censurar por termos feito o mal, pois não podíamos fazer diferente.

Uma proposta de solução
Agora precisamos tentar chegar a algumas conclusões sobre essa questão intrincada dos decretos de DEUS com respeito à salvação. Note que não estamos lidando aqui com toda a questão dos decretos de DEUS em geral. Em outras palavras, não estamos considerando se DEUS torna certos todos os eventos que ocorrem em todos os tempos e em todo o universo. Estamos interessados apenas em discutir se alguns são destacados por DEUS para serem receptores especiais de sua graça.

Começamos com uma análise dos dados bíblicos. As Escrituras falam da eleição em vários sentidos diferentes. Eleição às vezes refere-se à escolha que DEUS faz de Israel como seu povo especial, sob seu favor. Ocasionalmente, indica a seleção de indivíduos para posições especiais de privilégio e serviço e, claro, a seleção para a salvação. Em razão dos vários significados de eleição, qualquer tentativa de limitar nossa discussão a apenas um deles resultará, inevitavelmente, no truncamento do tópico.

Antes de investigar o ensino bíblico de que DEUS escolheu especialmente a alguns para que tenham vida eterna, é importante considerar o retrato pungente que a Bíblia faz do homem: perdido, cego e incapaz, em seu estado natural, de responder com fé à oportunidade de salvação. Em Romanos, em especial no capítulo 3, Paulo retrata a raça humana desesperadamente separada de DEUS por causa do pecado. Os homens são incapazes de fazer alguma coisa para se desvencilhar dessa condição e, aliás, sendo bem cegos quanto à sua situação, não têm sequer o desejo de fazê-lo. Os calvinistas e os arminianos conservadores concordam nesse ponto. Não é apenas que os homens em seu estado natural não conseguem fazer boas obras do tipo que possam justificá-los diante de DEUS. Além disso, somos afligidos pela cegueira espiritual (Rm 1.18-23; 2Co 4.3,4) e pela insensibilidade.

Por essa razão, segue-se que ninguém atenderia ao apelo do evangelho sem uma ação especial de DEUS. É neste ponto que muitos arminianos, reconhecendo a incapacidade humana conforme ensinada na Escritura, introduzem o conceito de graça preveniente, que teria efeito universal, anulando os resultados noéticos do pecado, tornando, então, possível a fé. O problema é que não há nenhuma base clara adequada na Escritura para esse conceito de capacitação universal. A teoria, embora atraente em muitos aspectos, simplesmente não é ensinada de forma explícita na Bíblia.

Voltamos à questão de por que alguns crêem, encontramos uma coleção impressionante de textos que dão a entender que DEUS selecionou alguns para a salvação e que nossa resposta à oferta da salvação depende dessa decisão e iniciativa anteriores de DEUS. Por exemplo, ligado à explicação de Jesus de que falava por meio de parábolas de modo que alguns ouvissem mas não entendessem, observamos que ele continua, dizendo aos discípulos: “Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mt. 13.16). Pode-se entender, com isso, que eles não eram tão incapazes, no aspecto espiritual, quanto os outros ouvintes. Mas podemos captar melhor o que se implica aqui observando Mateus 16. Jesus havia perguntado Aos discípulos sobre o que as pessoas diziam a respeito dele, e eles havia citado várias opiniões – João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas (v.14). Pedro, porém, confessou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (v.16). O comentário de Jesus é instrutivo: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (v.17). Foi uma ação especial de DEUS que fez a diferença entre os discípulos e os espiritualmente cegos e surdos. Isso está de acordo com as afirmações de Jesus: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44) e “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). Jesus também nos diz que essa condução e escolha são eficazes: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”(Jo.637). “Todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (v.45). O conceito de que Lucas nos diz que quando os gentios de Antioquia da Psídia ouviram da salvação, “regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que havia sido destinados para a vida eterna” (At. 13.48).

Além disso, o argumento arminiano de que a preordenação de DEUS é baseada em sua presciência não é persuasivo, pois a palavra hebraica yãda, que parece estar por trás das referências à “presciência” em Romanos 8.29 e 1pedro 1.1,2, significa mais que um conhecimento prévio. Ela carrega a conotação de um relacionamento muito positivo e íntimo. Insinua uma demonstração de favor ou de amor a alguém, sendo usada até mesmo para relações sexuais. O que se tem em vista, portanto, não é um conhecimento prévio neutro daquilo que alguém fará, mas uma escolha ativa daquela pessoa. Contra esse fundo hebraico, parece provável que as referências à predestinação em Romanos e 1 Pedro estão apresentando a presciência não como base da predestinação, mas como sua confirmação.

Mas que dizer das ofertas universais da salvação e dos convites gerais aos ouvintes para que creiam? Os arminianos às vezes alegam que, pelos argumentos calvinistas, alguém pode resolver aceitar a salvação, mas ser impedido de se salvar. Mas de acordo com o entendimento calvinista, essa cena nunca ocorre, pois ninguém é capaz de desejar ser salvo, chegar a DEUS e crer, sem uma capacitação especial. DEUS oferece sinceramente a salvação a todos, mas todos nós estamos tão estabelecidos em nossos pecados, que não atendemos, a menos que sejamos assistidos.

Existe liberdade real em uma situação dessas? Aqui retemos o leitor à nossa discussão geral sobre a liberdade humana em relação ao plano de DEUS (cap.12). Também precisamos notar, entretanto, que agora estamos lidando especificamente com a capacidade espiritual ou a liberdade de escolha com respeito á questão crucial da salvação. E aqui a consideração principal é a depravação. Se, como alegamos, os homens no estado irregenerado são totalmente incapazes de corresponder à graça de DEUS, não se discute se eles são livres para aceitar a oferta da salvação – ninguém é! Antes, a pergunta é: alguém que receba um chamado especial tem liberdade para rejeitar a graça oferecida? A posição tomada aqui não é de que os chamados sejam obrigados a atender, mas que DEUS, torna tão atraente a oferta, que eles desejam responder afirmativamente.

Implicações da predestinação
Corretamente compreendida, a doutrina da predestinação tem algumas implicações significativas:

  1. Podemos Ter confiança de que aquilo que foi decidido por DEUS ocorrerá. Seu plano será cumprido e os eleitos chegarão à fé.
  2. Não precisamos nos criticar quando alguns rejeitam a CRISTO. Jesus mesmo não ganhou todos os ouvintes. Ele compreendia que todos os que o Pai lhe havia dado viriam a ele (Jo 6.37) e que apenas aqueles viriam (v.44). Depois de fazermos o melhor, podemos confiar a questão ao Senhor.
  3. A predestinação não anula o incentivo para a evangelização e as missões. Não sabemos quem são os eleitos e os não eleitos, portanto, precisamos continuar a divulgar a Palavra. Nossos esforços evangelístico são os meios que DEUS usa para levar a salvação aos eleitos. A ordenação de DEUS para o fim também inclui a ordenação dos meios para atingir tal fim. O
    conhecimento de que as missões são o meio de DEUS é uma forte motivação para o empenho e nos dá confiança de que será bem-sucedido.
  4. A graça é absolutamente necessária. Embora os arminianos dêem, muitas vezes, grande ênfase à graça, em nosso esquema calvinista não há base para DEUS escolher alguém para a vida eterna, a não ser sua vontade soberana. Não há nada no indivíduo que persuada a DEUS a garantia a garantir sua salvação.

BIBLIOGRAFIA:
Introdução à Teologia Sistemática. Erickson, Millard J. Trad. Luci Yamakami. Ed. Vida Nova – São Paulo. 1ª edição 1997. Reimpressões 1998,1999.

Obs. O conteúdo acima é uma cópia sem citações bibliográficas do cap. 32 do livro acima.

A fórmula que Einsten não descobriu

O que eu prego, então, não é novidade; nenhuma nova doutrina. Adoro proclamar essas fortes e antigas doutrinas, que são chamadas pelo nome de Calvinismo, mas aquelas que são realmente e seguramente a verdadeira revelação de Deus como ele é em Cristo Jesus. Por essa verdade eu faço uma peregrinação ao passado, e vejo, pai após pai, confessor após confessor, mártir após mártir, em pé para me cumprimentar. Fosse eu um Pelagiano, ou um que acreditasse na doutrina do livre-arbítrio, e eu teria que andar por séculos totalmente só. Aqui ou acolá um herético de nenhum caráter poderia surgir e me chamar de irmão.
C.H.Spurgeon


Os inimigos do calvinismo apregoam que, “ninguém consegue ler cinco páginas nas Institutas de Calvino sem ver o nome de Agostinho. Calvino cita Agostinho mais de quatrocentas vezes nas Institutas apenas. Ele chamou Agostinho por títulos como “homem santo” e “pai santo.” O próprio Calvino até declarou: “Agostinho está tão inteiramente comigo, que se eu quisesse escrever uma confissão de minha fé, eu poderia fazer com toda integridade e satisfação a mim mesmo de seus escritos.” De fato, Calvino encerra sua introdução para a última edição de suas Institutas com uma citação de Agostinho. “ Sim, e daí? O que diremos de um arminiano ou de Armínio? Provavelmente irá chamar Pelágio de pai!
Raniere Maciel Menezes

"Deixem Deus ser Deus": A Predestinação de Acordo com Martinho Lutero - Timothy George

O problema da predestinação é levantado pela especificidade da tradição judeu-cristã: o fato de que Deus revelou-se exclusivamente num povo, Israel, e supremamente num homem, Jesus de Nazaré. Jesus, assim como Paulo, falou dos “eleitos” e dos “poucos escolhidos”. A tensão entre a livre eleição de Deus e a resposta humana genuína está presente já nos documentos do Novo Testamento. Entretanto, Agostinho, em sua luta clássica com Pelágio, foi quem primeiramente desenvolveu uma doutrina madura da predestinação.

Para Pelágio, a salvação era uma recompensa, o resultado das boas obras livremente realizadas pelos seres humanos. A graça não era algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça estava presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça era simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, via um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escoher corretamente. Agostinho entendia a salvação como a livre e surpreendente dadivda de Deus: “Atribuo à tua graça e misericórdia, porque dissolveste meus pecados como se fossem gelo”. Se, entretanto, a fonte de nossa conversão a Deus reside não em nós mesmos, mas somente no bom prazer de Deus, por que alguns reagem positivamente ao Evangelho, enquanto outros o desprezam? Essa pergunta levou Agostinho à discussão paulina da eleição, exposta em Romanos 9-11. Aqui ele encontra a base para sua própria doutrina “cruel” da predestinação: da massa da humanidade decaída, Deus escolhe alguns para a vida eterna e omite outros que estão, assim, destinados à destruição, e tal decisão é feita independentemente de obras ou méritos humanos.

Durante os mil anos transcorridos entre Agostinho e Lutero, a principal corrente da teologia medieval dedicou-se a dissolver o severo predestinacionismo daquele. É verdade que Pelágio fora condenado no Concílio de Éfeso (431), e o semipelagianismo, a saber, a visão de que ao menos o inicio da fé, o primeiro voltar-se para Deus, era resultado do livre-arbítrio, foi rejeitado pelo II Concílio de Orange (529). Contudo, a maioria dos teólogos, tentou modificar a doutrina de Agostinho, enfraquecendo a base da predestinação. Alexandre de Hales recorreu ao principio da eqüidade divina: “Deus relaciona-se de igual para igual com todos”. Outros afirmavam que a predestinação era subordinada ao conhecimento prévio, ou seja, Deus elege aqueles que sabe com antecedência que receberão méritos de seu próprio livre-arbítrio. Nenhuma dessas teorias da salvação era “puramente” pelagiana, porque todas requeriam a assistência da graça divina. Ainda assim, o fator crucial continuava sendo a decisão humana de responder positivamente a Deus, em lugar da livre e desacorrentada decisão de Deus de escolher quem desejasse.

Vimos como a doutrina da justificação sustentada por Lutero rompeu decisivamente com o modelo agostiniano de distribuição progressiva da graça. Somos justificados não porque Deus nos está tornando gradualmente justos, mas porque fomos declarados justos com base no sacrifício expiatório de Cristo. Contudo, a partir do princípio anterior da sola gratia , Lutero – e Zuínglio e Calvino depois dele – permanece firme com Agostinho contra os “pelagianos” posteriores que exaltam o livre-arbítrio humano à custa da livre graça de Deus. Nesse aspecto, a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma “aguda agostinianização do cristianismo”. Alguns historiadores consideram a doutrina da predestinação de Lutero uma aberração de seus temas principais ou, na melhor das hipóteses, “um pensamento meramente auxiliar”. Mas Lutero via o assunto de maneira diferente. Respondendo ao ataque de Erasmo a essa doutrina, Lutero elogiou o humanista por não aborrecê-lo com questões insignificantes como o papado, o purgatório ou as indulgências. “Apenas você”, ele disse, “atacou a questão verdadeira, isso é, a questão inicial [...] Apenas você percebeu o eixo ao redor do qual tudo gira, e apontou para o alvo vital.”

Uma das queixas de Lutero contra os “teólogos-porcos” era a tese deles de que a vontade humana, em sua própria volição, poderia realmente amar a Deus todas as coisas, ou que, ao fazer seu melhor, mesmo à parte da graça, alguém poderia obter certa permanência perante Deus. A essa avaliação otimista do potencial humano, Lutero opôs um duro contraste entre natureza e graça. “A graça coloca a Deus no lugar no lugar de tudo o mais que ela vê, e o prefere a si mesma, mas a natureza coloca a si mesma no lugar de tudo, e mesmo no lugar de Deus, e busca apenas o que lhe é próprio e não o que é de Deus”. Como “natureza” Lutero não queria dizer simplesmente o reino criado, mas sim o reino criado decaído e particularmente, a vontade humana decaída, que esta “curvada sobre si mesma” ( incurvatus in se ), “escravizada” e manchada com o mal em todas as suas ações. Na Disputa de Heidelberg, em 1518, Lutero defendeu a tese: “Depois da queda, o livre-arbítrio existe apenas nominalmente, e, enquanto, alguém ´faz o que está em si´, está cometendo um pecado mortal”. Inclui-se essa formulação na bula Exsurge Domine , pela qual o Papa Leão X excomungou Lutero, em 1520.

Então, será que Lutero era um determinista absoluto? Erasmo e alguns estudiosos pensavam assim. Lutero, de fato, aproximou-se perigosamente de linguagem necessitariana. Todavia, ele nunca negou que o livre-arbítrio mantém seu poder em assuntos que não se relacionam com a salvação. Assim, Lutero disse a Erasmo: “Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que seja livre nas coisas de Deus é demais”. Lutero admitiu abertamente que mesmo uma vontade escravizada “não é um nada”, que, com respeito àquelas coisas “inferiores” a ela, a vontade mantém seu poder total. É apenas com respeito àquilo que é “superior” a ela que a vontade é mantida presa em seus pecados e não pode escolher o bem de acordo com Deus. Aqui, encontramos um paralelo ao desprezo de Lutero para com a razão. Em sua esfera legítima, a razão é o mais elevado dom de Deus, mas no momento em que excede para a teologia, torna-se a “prostituta do diabo”. O mesmo se dá com o livre-arbítrio. Entendido como a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, para cumprir as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece intacto. O que ele não pode fazer é realizar a própria salvação. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido pelo pecado e cativo a Satanás.

Lutero descreveu a natureza dessa escravidão sob o aspecto de uma luta entre Deus e Satanás.

Assim, a vontade é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer. [...] Se Satanás o monta, ele quer ir e vai aonde Satanás quer; ele não pode escolher correr para um deles ou seguir a um deles, mas os próprios cavaleiros brigam pela posse e controle dele.

Mesmo tendo alguns estudiosos encontrado traços de um dualismo maniqueísta nessa metáfora, Lutero estava meramente desenvolvendo uma imagem já apresentada por Jesus: “...todo o que comete pecado é escravo do pecado” e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos...” (Jo 8.34,44). Há outro ponto que Lutero desenvolveu com respeito à vontade escravizada. Embora nosso destino eterno, em certo sentido, seja determinado por Deus, não somos com isso compelidos a pecar. Pecamos espontânea e voluntariamente. Continuamos querendo e desejando fazer o mal, a despeito do fato de que em nossas próprias forcas não podemos fazer nada para alterar essa condição. Essa é tragédia da existência humana se a graça: estamos tão curvados sobre nós mesmos que, pensando estar livres, entregamo-nos exatamente àquelas coisas que apenas aumentam nossa escravidão.

O propósito da graça é libertar-nos da ilusão da liberdade, que é na verdade escravidão, e guiar-nos para a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Só quando a vontaade recebeu a graca, ou, para usar sua outra metáfora, só quando Satanás é vencido por um cavaleiro mais forte, “é que o poder da decisão torna-se realmente livre, em todos os aspectos concernentes à salvação”. A verdadeira intenção por trás do reforço de Lutero à vontade escravizada mostra-se óbvia agora. Deus deseja que possamos ser verdadeiramente livres em nosso amor para com ele; contudo, isso não é possível até que sejamos libertos de nosso cativeiro a Satanás e ao ego. O eco de resposta à escravidão da vontade é a liberdade do cristão .

Visto que, fora da graça, o homem não possui nem uma razão sã, nem uma vontade boa, “a única preparacao infalível para a graça [...] é a eleição eterna e a predestinação de Deus”. Lutero não se esquivou de uma doutrina de predestinação absoluta e dupla, ainda que admitisse que “isso é um vinho muito forte e comida substancial para os fortes”. Ele até restringiu o alcance da expiação aos eleitos: “Cristo não morreu por todos absolutamente”. Contra a objecao de que tal visão transformava Deus num ogro arbitrário, Lutero respondeu – como Paulo – “Deus assim o quer, e porque ele o quer, isso não é perverso”. A “prudencia da carne” diz que “é cruel e miseravel Deus buscar sua glória em minha maldade. Ouça a voz da carne! ´Meu, minha´, diz ela! Lance fora esse ´meu´ e diga, em lugar disso ´Glória a ti, Snhor´, e você será salvo”. A postura da razão é sempre de egocentrismo. Deus é apenas tão “injusto”, falando estritamente, ao justificar os ímpios à parte de seus méritos, quanto o é ao rejeitar outros à parte de seus deméritos. Ainda assim, ninguém reclama da primeira “injustiça”, porque o interesse pessoal está em jogo! Em ambos os casos, Deus é injusto pelos padrões humanos, mas justo e verdadeiro pelos seus. Lutero recusou-se a submeter Deus ao tribunal da justiça humana como se a “Majestade, que é o criador de todas as coisas, tivesse de curvar-se a uma das escórias de sua criação”. “Deixem Deus ser bom”, clamava Erasmo, o moralista. “Deixem Deus ser Deus”, replicava Lutero, o teólogo.

Embora Lutero nunca tenha suavizado sua doutrina da predestinação (como fizeram posteriormente os luteranos), ele de fato tentou estabelecer o mistério no contexto da eternidade. Lutero nunca admitiu que os inescrutáveis julgamentos de Deus eram realmente injustos, mas sim que somos incapazes de apreender o quanto são justos. Há, segundo ele, três luzes – a luz da natureza, a luz da graça e a luz da glória. Pela luz da graça, tornamo-nos capazes de entender muitos problemas que pareciam insolúveis pela luz da natureza. Mesmo assim, na luz da glória, os retos julgamentos de Deus – incompreensíveis para nós agora, mesmo pela luz da graça – serão abertamente manifestos. Lutero, então, apelava para a reivindicação escatológica da decisão de Deus na eleição. A resposta ao enigma da predestinação encontra-se no caráter oculto de Deus, por trás e alem de sua revelação. No final, quando tivermos prosseguido através das “luzes” da natureza e da graça para a luz da glória, o “Deus escondido” se mostrará um só como o Deus que está revelado em Jesus Cristo e proclamado no Evangelho. Nesse ínterim, Lutero admitiu, podemos apenas acreditar nisso. A predestinação, como a justificação, é também sola fide.

Ninguém conhecia melhor do que Lutero a angústia que o duvidar da própria eleição podia provocar numa alma vacilante. Como um pastor poderia responder a alguém que estivesse atormentado por esse problema? Lutero deu duas respostas a essa questão, uma para o cristão forte, a outra para o mais fraco ou para o novo convertido. A mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”. A resignação com o inferno era tema popular na tradição mística e significava passividade absoluta, um total deixar-se perder ( Gelassenheit ) ante o abismo do ser de Deus. Lutero dizia que Deus dispensava esse dom aos eleitos de maneira breve e escassa, quase sempre na hora da morte.

Mais, comumente Lutero era chamado a aconselhar cristãos comuns que estavam atormentados pela questão da eleição. O conselho básico de Lutero era: “Agradeça a Deus por seus tormentos!”. É característico dos eleitos, não dos réprobos, tremer em face dos desígnios ocultos de Deus. Além disso, ele instava por uma completa refutação do diabo e uma contemplação de Cristo. Foi típica sua resposta a Bárbara Lisskirchen, que estava aflita sentindo não se encontrar entre os eleitos:

“Quando tais pensamentos a assaltam, você deve aprender a perguntar a si mesma: “Por favor, em que mandamento está escrito que eu deva pensar sobre esse assunto e lidar com ele?”. Quando parecer que não há tal mandamento, aprenda a dizer: “Saia daqui, maldito diabo! Você está tentando fazer com que eu me preocupe comigo mesma. Meu Deus declara em todos os lugares que eu devo deixá-lo tomar conta de mim [...]”. A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deix que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.

A doutrina da predestinação defendida por Lutero não era motivada por interesses especulativos ou metafísicos. Era uma janela para a vontade graciosa de Deus, que se ligou livremente à humanidade em Jesus Cristo. A predestinação, como a natureza do próprio Deus, só pode ser atingida mediante a cruz, mediante as “feridas de Jesus”, às quais Staupitz havia dirigido o jovem Lutero em suas primeiras batalhas.


Fonte: GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. 1ª Edição. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999. pp. 74-80.

DVD Daniel Mastral - ex-satanista - Seminário de Batalha Espiritual - Nível 1 – A Reconstrução dos Muros.

Pautado no livro de Josué, vamos conhecer as características de um Guerreiro, que levou toda uma geração a conquista de uma promessa.
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Este é um dos melhores vídeos que já assisti.
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DVD Daniel Mastral - ex-satanista - Seminário de Batalha Espiritual - Nível 2 - Restauração do Altar

Com base no livro de Esdras, este módulo irá aprofundar nos conceitos e estratégias do adversário. Estudaremos a história do diabo e sua influência na história. Como ele desenvolveu, ao longo dos séculos, o engano, e como este engodo é aplicado em nossos dias. Os paradigmas e paradoxos que o inimigo plantou ao longo dos séculos para ser aceito pelo homem como deus. Dimensões paralelas, os templos pagãos e sua curiosa arquitetura.Vamos conhecer um pouco das civilizações antigas, seus ritos, suas crenças, seus mistérios. Vamos visitar os Acádios, Sumérios, Persas, Babilônios, povos da antiga Mesopotâmia. Conheceremos mais a fundo o Egito e suas influências espirituais. Saberemos mais sobre as pirâmides, os Zigurates, os Megálitos, os Círculos Ingleses, os Druidas, etc. Como a magia negra se aperfeiçoou na historia e como ela influencia vidas nos nossos dias. A proposta central é mais uma vez conhecer para guerrear. Porem desta vez de forma mais acentuada. Com os muros já reconstruídos, precisamos restaurar o Altar, os púlpitos! Um verdadeiro exercito de Deus esta se levantando, como um coro de muitas vozes que estão preparando a volta de Jesus o Cristo! Conheceremos bases Bíblicas para oferecer resistência a satanás, para fechar brechas, para nos preparar para a verdadeira Batalha Espiritual!

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Livro: História Eclesiástica

OS PRIMEIROS QUATRO SÉCULOS DA IGREJA CRISTÃ
A História Eclesiástica de Eusébio é uma surpreendente síntese dos três séculos que se seguiram à era apostólica. Procurou o autor, através de copiosa e idônea documentação, reconstituir a história da Igreja desde o ministério terreno de Nosso Senhor Jesus Cristo até ao Concílio de Nicéia em 325 d.C.
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Livro: O Novo Comentário da Bíblia

Este Comentário foi produzido para satisfazer uma exigência generalizada entre estudantes sérios da Bíblia, os quais desejavam um tratamento novo e atualizado do texto que combinasse fé irrestrita em sua inspiração divina, em sua fidelidade histórica essencial e em sua positiva utilidade cristã com uma erudição sã e cuidadosa.
A atenção foi orientada principalmente para o entendimento do texto conforme existente em nossas versões comuns da Bíblia. Conseqüentemente, e por preferência deliberada, tem sido sentido ser desnecessário devotar qualquer extensão considerável de espaço à análise das fontes, ao criticismo arbitrário e às teorias especulativas que de tal modo dominam muitas publicações.
Igualmente não tem sido o alvo dos editores produzir um volume que contenha extensivas anotações devocionais ou homiléticas. As Santas Escrituras possuem um modo todo especial de aplicar sua própria mensagem aos corações e às consciências dos homens, quando apropriadamente compreendidas.
Comenta cada livro, capítulo por capítulo, acompanhado de textos gerais sobre autoridade das Escrituras, sobre a história de Israel e sobre a cronologia dos eventos da Bíblia.
Abrangendo em um único volume os 66 livros que compõem a revelação escrita de Deus, especialistas de grande renome e reconhecimento internacional dão-nos a segurança de uma empreitada hermenêutica que reconhece a autoridade da Bíblia como palavra inspirada e digna de crédito.
Entre as dezenas de comentaristas do texto sagrado aqui reunidos encontram-se os nomes como:
F. F. Bruce
G. W. Bromiley
C. R. Beasley-Murray
J. I. Packer
E. J. Yong
Francis Davidson
e outros
Que nos garantem o bom sucesso em nossos esforços por interpretar a Bíblia e conhecer a mente de seu Autor.

Três níveis de objeções antropológicas à evolução

O artigo a seguir é um pouco extenso, mas vale a pena ler. O resumo está no final do artigo.

Escrito por R. Clyde McCone - Ph.D., Professor de Antropologia na California State University, Long Beach 90801, U.S.A.

Os antropologistas discordam entre si quanto a qualquer aplicação particular das explicações evolucionistas. Apesar disto, tendem a aceitar a idéia geral da evolução, sem questionar. Pode-se mostrar que os dados acerca da evolução ou são emprestados ou são gerados pelas hipóteses. As hipóteses uniformistas de uma ordem existente mostram-se inconsistentes com a tentativa de explicação das origens daquela ordem. A evolução torna-se bem sucedida somente pela deificação da natureza, introduzindo nela o mistério inescrutável que se situa além da ciência e da mente humana. O seu tratamento deificante da natureza material constitui um valor e não uma teoria científica.

Com boa razão, muitas pessoas, leigos e profissionais, têm identificado a Antropologia com a evolução. Falar de objeções antropológicas à evolução, a muitas pessoas assemelhar-se-á a fazer objeções científicas à ciência. O que se pode esperar mais comumente são objeções bíblicas à evolução. Infelizmente, a grande maioria das objeções religiosas à evolução têm sido baseadas mais em emoções humanas e tradições do que nas Escrituras, e em conseqüência têm gerado mais calor do que luz.

Se porventura pareço incongruente ou presunçoso a alguns leitores ao apresentar objeções antropológicas à evolução, desejaria que fossem considerados os dois fatos seguintes a respeito da Antropologia e dos antropologistas.

Primeiramente, que, embora nenhum antropologista ponha em dúvida a evolução, não há nenhuma explicação evolucionista particular oferecida por um antropologista, que não tenha a oposição de alguns outros. Isso é verdade tanto na Antropologia Física quanto na Cultural.

A segunda observação é que, nas três primeiras décadas do século XX, muitos antropologistas culturais dos Estados Unidos, e muitos antropologistas sociais da Grã Bretanha, ou se opuseram à evolução, ou não a consideraram como estrutura útil para explicação. Leslie White (1) diz a respeito desse período “... uma importante reversão de acontecimentos teve lugar nos círculos antropológicos; uma reação vigorosa contra a teoria da evolução teve início. Nos Estados Unidos esse movimento foi dirigido por Franz Boas”. Vemos, pois, que objeções à evolução em geral, e a quaisquer explicações evolucionistas especificas, são e foram registradas dentro da Antropologia.

Deve ser reconhecido, entretanto, que a estrutura evolucionista hoje em dia está crescentemente em voga na Antropologia. O trabalho de White é uma forte “reação contra a reação” anti-evolucionista da primeira parte deste século. O seu trabalho, num contexto de muitos outros fatores, grandemente, minimizou, se não eliminou, a tendência anti-evolucionista da Antropologia. De fato, oposição explícita à evolução é mais fácil de ser encontrada supondo-se ignorância dos dados pelos indivíduos, raciocínio preconcebido ou não educado, ou oposição supersticiosa à ciência.

Ainda assim, é nesses três níveis que desejo destacar o que espero mostrar serem objeções antropológicas à evolução. Essas objeções são antropológicas porque:

(1) relacionam-se abertamente com o problema dos dados;

(2) relacionam-se conscientemente com o exercício da razão;

(3) ligam-se com os critérios científicos da teoria.

Usarei uma definição de evolução dada por um antropologista cultural, aplicável também a fenômenos biológicos: “A evolução pode ser definida como uma seqüência temporal de formas, uma forma derivando de outra, a cultura progredindo de um estágio para outro” (2). A evolução tenta também ligar os estágios dos inanimados aos estágios da vida. Os estágios da vida ligam-se também aos estágios da cultura. Todo o processo é utilizado para supostamente explicar a ordem existente na natureza e no homem.

Dois outros conceitos que são básicos para a compreensão de minhas objeções encontram-se nos adjetivos: sincrônico e diacrônico.

Sincrônico tem relação com uma ordem contínua de fenômenos. É a abordagem dos cientistas naturais pela qual as mesmas regularidades que são observadas hoje provavelmente ocorreram ontem e ocorrerão amanhã. Pode-se esperar que a reação química HCl + NaOH ? H2O + NaCl, verdadeira há cem anos, continuará verdadeira nos próximos cem anos. O tempo, observamos, não é um fator, embora esteja envolvido no processo. A abordagem sincrônica é portanto uma abordagem que supõe uma ordem existente predizível.

Diacrônico tem relação com as transformações temporais. É a abordagem dos historiadores para mudar o estado ou a organização das ordens. Observa-se que a quantidade de sal ou sais dissolvidos nos oceanos muda em função do tempo. A história dessa alteração é uma abordagem diacrônica e relaciona-se com o passado do atual estado da ordem existente, mas não necessariamente com uma alteração na própria ordem subjacente.

1 – Dados

Minha objeção à evolução no nível de observação científica é a inexistência de dados. Isso, estou ciente, constitui uma afirmação extrema. Talvez eu recebesse atenção mais crível se dissesse, como T. A. Goudge (3) em “The Ascent of Life”, que “a evidência é fragmentária”. Mas se assim eu fizesse, estaria tão somente seguindo uma tendência comum do pensamento não crítico. Entretanto, ao tomar a posição mais radical, desejo ser compreendido somente em termos de apoio que desenvolverei a favor da mesma.

Primeiramente, os dados fragmentários que têm sido utilizados nas obras evolucionistas são dados de uma ordem sincrônica e não de um processo diacrônico. Tomar as categorias da ordem de vida sincrônica existentes e introduzi-las num modelo de processo de alteração de cada uma delas, e então distribuir os restos fósseis fragmentários nessas categorias, de maneira nenhuma transformará esses fósseis em dados diacrônicos.

Um eminente paleontologista da Califórnia State College em Long Beach falou-me de uma escarpa na qual camadas supostamente continham milhões de anos de seqüência evolutiva da vida. Entretanto, afirmou ele não existir absolutamente evidência alguma de transição entre uma camada e a seguinte, o que o intrigava bastante. Sua explicação era que cada forma deveria ter entrado nas camadas provindo de algum outro lugar. Em outras palavras, a evolução deveria ter ocorrido em algum outro lugar.

Alguém poderia perguntar: “Como sabe você que ela não ocorreu?” Entretanto o problema é: “Como sabe você que ela ocorreu, na ausência dos dados?” Os dados comprovadores da evolução devem ser dados transicionais, entretanto existem somente dados de uma ordem existente, ou seja, uma ordem sincrônica.

Isso leva a uma segunda observação com relação à ausência de dados, a saber, que os dados são gerados através do modelo evolutivo ao invés de serem generalizados a partir de outros dados. Na sua imaginação, os homens supõem e preenchem o que o modelo requer, em vez de usar o modelo para explicar o que é observado. A geração de dados ocorre de muitas maneiras. Por exemplo, em duas sentenças White (4) salta de hipótese para fato:

Se, supusermos, como muitas autoridades, que a cultura teve início há um milhão de anos, e se datarmos o início da agricultura a cerca de 10.000 anos atrás, então o estágio de desenvolvimento cultural baseado na energia muscular do homem compreenderá cerca de noventa e nove por cento da história da cultura. Esse fato é tão significante, quanto notável.

As probabilidades também constituem outra técnica para a geração de dados históricos ou diacrônicos. Após observar as posições teóricas nos dados sincrônicos relativos a endogamia e exogamia, White (5) declara que “Podemos agora proceder ao esquema da provável fonte de desenvolvimento da sociedade humana nos seus primitivos estágios, sob o ponto de vista da endogamia”.

Ainda além, dados “condicionais” são apresentados em substituição à ausência de dados observados. Afirmações como as seguintes são feitas freqüentemente no decurso de tentativas para explicar as supostas origens evolutivas da sociedade humana:

Podemos supor, portanto, que a tendência de se unirem sexualmente mãe e filho deveria ser maior do que a tendência entre pai e filha. ... Uma união mãe-filho deveria ser menos efetiva do que uma união pai-filha, como organização para defesa própria, obtenção de alimento, e reprodução (6).

Por melhor que fosse esse raciocínio, utilizá-lo para suprir a falta de dados é somente um testemunho da sua ausência.

Os antropologistas físicos evolucionistas podem divisar como os antropologistas de há meio século usaram o modelo para criar os seus dados. Brace e Montague ressaltam que foram atribuídas ao “Homem de Neanderthal” muitas características simiescas porque isso se prestava a ilustrar um estágio da evolução. Sabe-se hoje que ele tinha braços mais curtos, em vez de compridos braços como os macacos, e que ele não andava encurvado. Além disso, o temperamento feroz animalesco que se supunha ele ter tido como um “homem da caverna” é o oposto do gorila, o qual veio posteriormente suprir um dos supostos elos da seqüência evolutiva. Brace e Montague afirmam com relação a esse dado fictício:

Mais do que somente resíduos deste libelo permanecem hoje na conversação casual, nas charges corriqueiras da impressa, em numerosos livros populares de divulgação científica e mesmo nos círculos profissionais, onde já há muito deveriam ter desaparecido (7).

Erros de uma ou duas gerações atrás são facilmente reconhecíveis; apesar disso, repetem-se sob a luz mais sofisticada de nossos dias.

Algumas poucas afirmações de Ross, não consideradas fora do contexto, destacam claramente o “poder gerador” do modelo evolucionista quando limitado a dados sincrônicos (a ênfase foi adicionada):

Ao se compreender que toda a matéria do universo ... iniciou-se como simples gás hidrogênio, e que a vida na Terra é o mais complexo sistema conhecido composto de moléculas químicas extremamente complexas, torna-se óbvio que em algum lugar e em alguma ocasião no passado houve transição partindo da simples organização química do universo primitivo, em direção à complexa organização química que constitui a vida. Sabemos que a vida teve uma origem, porque a Terra hoje é povoada por seres vivos. ... Parece haver pouca dúvida que esses ingredientes elementares da pré-vida tenham se juntado de alguma maneira em esférulas semelhantes a células e formado alguma espécie de sistema do tipo ácido proteíno-nuclêico. ... É razoável supor que eventualmente uma dessas esférulas altamente avançadas alterou-se de tal maneira que sucederam duas coisas: (1) ao ter ela atingido uma certa composição química, dividiu-se em duas esférulas filhas; e (2) cada esférula filha manteve as mesmas propriedades químicas da “jovem” esférula mãe, e repetiu-se o processo. Neste ponto uma esférula havia se tornado quase imperceptivelmente em organismo. Vida verdadeira tinha vindo à existência (8).

Assim os dados sincrônicos de uma ordem existente, adicionados à imaginação humana, produziram os dados diacrônicos faltantes. Aquilo que se não observa como dados, torna-se óbvio do ponto de vista do modelo evolucionista.

Um terceiro ponto apoiando a objeção de que a evolução não se baseia em dados, é que existem antropologistas evolucionistas que reconhecem esse fato, de uma maneira quer limitada, quer indireta. William Howells admite a ausência de dados em qualquer linha que leve ao homem moderno.

Para onde foi o Homo erectus? Os caminhos simplesmente não estão traçados. ... É esse um período em que falta evidência útil. Além do mais, a natureza da linha que leva ao homem moderno - Homo sapiens nesse sentido dado por Lineu - permanece objeto de pura teoria (9).

A admissão de Leslie White, de que a evolução não se apoia em dados empíricos, é mais indireta e talvez não intencional. É o que se acha na maneira pela qual faz ele diferença entre evolução e ciência estrutural-funcional sincrônica, e também fenômenos diacrônicos da história. Afirma White que a abordagem estrutural-funcional dos cientistas naturais é uma generalização dos dados de uma ordem sincrônica. Os historiadores, entretanto, tratam dos acontecimentos particulares, ou dados dos fenômenos diacrônicos, e não fazem generalizações. Os evolucionistas generalizam em termos da ordem temporal, ou diacrônica. Entretanto, não generalizam a partir de culturas particulares, nem de acontecimentos particulares de culturas particulares.

Os evolucionistas são deixados então sem os dados da ordem sincrônica das Ciências Naturais, e sem os dados temporais da História. O resultado é uma filosofia que não tem raízes no mundo empírico.

Um testemunho final quanto à ausência de dados provém de um esforço para suprir essa deficiência. Francis J. Ryan, escrevendo no “Scientific American” declara que “há abundante evidência da evolução, mas tem sido extremamente difícil estudar o processo em laboratório” (10). “A razão”, afirma Ryan, “é que a evolução é exasperadamente lenta. O homem atual difere biologicamente pouco do homem de Ur, de 5000 anos atrás. Quase em nenhum lugar na natureza pode-se ver a evolução em ação” (11).

Mas, então, onde está a evidência, ou onde estão os dados? A afirmação inicial de Ryan fornece a chave: “Nossas idéias sobre a evolução hoje, aproximadamente 100 anos após ter Charles Darwin lançado o seu conceito imensamente frutífero, ainda estão grandemente baseadas em observação e dedução, em vez de na experiência” (12). Em outras palavras, na ausência de dados processuais ou diacrônicos, os dados de uma ordem sincrônica provenientes de diferentes pontos no tempo são dispostos por dedução na moldura diacrônica da evolução.

Ryan sugere que o processo de evolução possa ser estudado em bactérias que levam somente vinte minutos para produzir uma geração, enquanto que nos seres humanos esse tempo atinge vinte anos. Assim, em dois anos as bactérias podem passar por mais gerações do que o homem em 1.000.000 de anos.

Um caso é levantado com a observação de que, devido a mutações aleatórias, produziram-se bactérias resistentes à penicilina após a divulgação da penicilina. É esse, de fato, um caso de mutação em caracteres herdados e de seleção natural, mas o produto final não é evolução. As bactérias permanecem bactérias ainda, e as gerações de centenas de anos nada mais produziram além das mesmas bactérias.

2 – Razão e Lógica

Minha segunda objeção antropológica à evolução é ser ela intrinsecamente irracional. Os evolucionistas freqüentemente atribuem a pecha de irracionais aos que a eles se opõem. É o que fez Goudge, por implicação, quando afirma: “Nenhuma pessoa razoável familiarizada com a evidência, pode duvidar de que o homem é um produto da evolução” (13). Mostrei que não há evidência para o processo diacrônico de evolução, e tentarei agora mostrar que a idéia da evolução transgride as exigências da razão.
Primeiramente, a essência da característica irracional encontra-se na tentativa de aplicar o princípio do uniformismo, da abordagem sincrônica da ciência, à explicação evolucionista dos fenômenos diacrônicos ou temporais. Acha-se uma clara afirmativa sobre o princípio do uniformismo no trabalho de Berry “Growth of a Prehistoric Time Scale” (Crescimento de uma escala de tempo pré histórica): ... “Processos e funções naturais observáveis hoje têm estado a ocorrer da mesma maneira básica que nos tempos passados” (14). Goudge descreve essa aplicação sem reconhecer o problema irracional:

Um outro exemplo ... é o “princípio uniformista” ... A sua função é tornar possível a extrapolação regressiva no tempo, de resultados obtidos a partir da pesquisa dos organismos existentes hoje. O princípio afirma, em linhas gerais, que fatores e leis descobertos agora como sendo operativos no domínio biológico, foram operativos através de toda, ou da maior parte da história da vida. Um evolucionista tem de esposar esse princípio, se tiver de empregar as descobertas de ciências como a Genética, para construir explicações sistemáticas dos fenômenos do passado remoto. Se não o esposar, a sua teoria não funcionaria. Mas novamente, a situação tem de ser entendida em termos mais do que instrumentais, pois a doutrina da evolução deixaria de ser inteligível não fosse o princípio do uniformismo descrever o caso. Deve ser verdadeiro que os fatores e leis biológicas que se reconhecem hoje como operativos, estiveram em ação no passado. É essa uma afirmação incapaz de ser demonstrada dentro da teoria evolucionista, porque ela funciona como uma pressuposição metafísica daquela teoria(15).

Hipóteses e pressuposições metafísicas não devem ser desacreditadas como tais. Constituem elas uma parte necessária do desenvolvimento de todo o conhecimento cientifico. O fator irracional é encontrado quando a necessária pressuposição metafísica se acha incongruente com a própria teoria.

O princípio sincrônico de uniformismo envolve o conceito de que acontecimentos ocorridos na natureza, no passado, presente e futuro, têm lugar uniformemente. Sem essa hipótese, o universo seria caprichoso e os cientistas não poderiam fazer generalizações.

Entretanto, quando essa hipótese é utilizada numa explicação diacrônica de como as coisas vieram a existir, ela se torna inerentemente inconsistente, pois fazer isto implica a hipótese de que as coisas no passado ocorreram como as coisas hoje observadas, embora as coisas observadas ainda não fossem existentes. Os evolucionistas supõem que pelo menos algumas das regularidades do presente não existiam no passado, ao mesmo tempo em que utilizam o princípio uniformista como se todas as coisas no passado ocorressem de conformidade com as regularidades hoje observadas.

Para tornar nosso raciocínio mais específico os evolucionistas supõem que em certa época não existia o fenômeno homem; portanto, as coisas no passado não estavam ocorrendo em termos deste fenômeno. Por outro lado, fenômenos que hoje existem estavam em operação para trazer o homem à existência, muito embora não se observem hoje tais fenômenos operando para produzir o mesmo resultado.

Indo mais além na escala evolutiva, os evolucionistas suporiam que as regularidades biológicas, hoje em operação, em certa época não estiveram operando porque ainda não tinham vindo à existência. Assim novamente todas as coisas no passado não estiveram ocorrendo de conformidade com as regularidades observadas hoje, exceto naturalmente as regularidades de natureza inorgânica. Entretanto, estas últimas estiveram em operação, mas não de conformidade com processos atualmente observados, pois estavam em operação, para produzir vida.

Suponhamos, contudo, que forcemos a escala evolutiva para uma conclusão lógica e razoável, e procuremos as origens do inorgânico. Nesse ponto, nenhum dos processos que nós observamos hoje estaria em operação. Nesse ponto, as hipóteses do uniformismo, de que os evolucionistas têm-se apossado como pressuposição metafísica, estariam totalmente eliminadas pelas hipóteses diacrônicas da própria evolução. Os evolucionistas, portanto, para utilizar o princípio básico do uniformismo, devem tomar duas decisões racionalmente insustentáveis:

(1) Decidir que parte das regularidades da natureza hoje observáveis operaram no passado para trazer à existência todas as demais regularidades. Essas regularidades deveriam ter feito então o que hoje não mais fazem, constituindo assim uma violação do princípio do uniformismo.

(2) Decidir até que ponto a hipótese uniformista retroagirá antes de ser totalmente negada.
A incongruência entre o principio do uniformismo e a evolução leva-nos a focalizar nossa atenção na transição entre as três grandes categorias: (a) matéria; (b) vida; e (c) cultura. Kroeber, e muitos antropologistas desde então, tem-se referido a essas categorias como o inorgânico, o orgânico, e o superorgânico. Temos mostrado que estão ausentes os dados de transição dentro das subdivisões destas categorias.

A suposta transição de uma categoria para outra tem exigido um tremendo esforço de imaginação. Como afirmado anteriormente, não se deve desconfiar da imaginação e da especulação meramente devido ao fato de se constituírem em especulações. É o caráter irracional da especulação que constitui a base para objeção.

(a) – Matéria


O problema da origem da primeira categoria, a de matéria, produziu uma ampla gama de respostas que não podem preencher os critérios da racionalidade. Exemplificarei com três delas somente para ilustrar:

(1) A teoria da explosão inicial na qual uma molécula grandemente concentrada de matéria pre-universo explode para produzir o atual universo material ordenado.

(2) O universo material como produto de uma nuvem de poeira primordial que presumivelmente era matéria.

(3) A posição mais racional das três, em que os teóricos racionalmente desistem de tratar deste problema, considerando-o além do poder de raciocínio do homem.

Todas estas, bem como as teorias do regime permanente e do regime cíclico, apresentam-nos matéria existente eternamente, e negam portanto as origens que tentam explicar. O deus do materialismo é obviamente inerente a elas.

Como se pode, porém, racionalmente explicar o início da vida ou do homem numa certa época, a partir de matéria existente eternamente? Como poderia ela existir eternamente sem produzir vida, e então, em certa época, produzir o que não houvesse produzido durante toda a eternidade? Talvez uma eternidade de ciclos em que universos e humanidade surgissem a desaparecessem fosse a única resposta consistente.

(b) – Vida


O problema da evolução da matéria para a vida pode não ser tão frustrante para a mente especulativa, embora não se apresente sem características irracionais. Num programa documentário do “National Geographic” recentemente televisionado, falou-se para os espectadores sem a mínima sombra de dúvida, que em alguma época do obscuro e distante passado duas moléculas gigantes se uniram tornando-se reprodutivas. A vida, que depende de um código genético para sua reprodução, e que, unicamente ela, produz o código genético, é apresentada como vinda à existência por uma congruência fortuita dos constituintes materiais da vida. Não sou biologista, mas os argumentos apresentados contra isso pelo Dr. Duane Gish têm sido racionalmente convincentes para mim (16).

Entretanto, gostaria de ilustrar a irracionalidade da evolução neste ponto referindo-me a outro biologista, George Wald. No número de agosto de 1954 do “Scientific American”, Wald apresenta o seu raciocínio em um artigo intitulado “A Origem da Vida”. Aí Wald apresenta a moderna evidência científica, como estabelecida por Pasteur e outros, contra a geração espontânea da vida.

Ele mostra então como a complexidade dos fenômenos da vida fazem ficar além da imaginação pensar que pudesse ter surgido a vida por acaso a partir do inanimado. Sobre isso diz então: “Apesar disso, aqui estamos - como resultado, creio, da geração, espontânea” (17). Sua razão para essa crença é o fato de recusar-se a aceitar a única alternativa. Wald expõe seus motivos:
O ponto de vista razoável foi crer na geração espontânea; a única alternativa era crer num ato inicial único de criação sobrenatural. Não há uma terceira posição. Por esta razão há um século muitos cientistas escolheram encarar a crença na geração espontânea como uma necessidade filosófica. ... A maior parte dos modernos biologistas, tendo visto com satisfação a queda da hipótese da geração espontânea, e não desejando aceitar a crença alternativa na criação especial, fica sem nada (18).

Embora a racionalidade dessa escolha de uma fé não seja demonstrada, o seu caráter irracional é visível na sua defesa.

Wald inicia supondo que “a cada acontecimento pode-se associar uma probabilidade” (19). Usa ele como modelo de acontecimento a queda de uma moeda. É esse, entretanto, um acontecimento observável, repetitível. A geração espontânea da vida não é dessa natureza; de fato, não foi sequer estabelecido por Wald nesse ponto de argumentação, como constituindo ela um acontecimento.

Apesar disso, continua ele raciocinando que, não importa quão pequena a probabilidade de ocorrer um acontecimento, é ela aumentada pelo número de tentativas ou do tempo envolvido. Se a probabilidade é de somente uma em um bilhão para um acontecimento ocorrer em um ano, seria quase uma certeza a sua ocorrência em um bilhão de anos. Entretanto, Wald assim procede sem estabelecer a probabilidade da geração espontânea ocorrer em um ano ou em bilhões de anos. A chave para essa posição irracional é que não há probabilidade possível de ser estabelecida para esse acontecimento, em qualquer período de tempo. E zero multiplicado por qualquer número de anos permanece ainda zero.

(c) – Cultura

Finalmente, a tentativa de especular a respeito da transição da vida precultural para a cultural, ou dos animais inferiores para o homem, está repleta do mesmo caráter irracional. White diz sobre a origem da cultura:

Podemos supor que a cultura veio à existência da seguinte maneira: a evolução neurológica em uma certa linha, ou linhas, dos antropóides, culminou finalmente na habilidade para simbolizar. O exercício dessa habilidade trouxe à existência a cultura, perpetuando-a em seguida (20).

Não obstante, o homem hoje, com tais faculdades, depende da associação com outros que possuam linguagem e cultura, não somente para sobreviver, mas para aprender uma linguagem e a cultura a ela associada. White quis dizer que o homem, possuindo a faculdade de simbolizar, sem cultura, criou a cultura, e então passa a afirmar que é a cultura que determina o homem, e que o homem não pode sequer modificar a cultura, e muito menos criá-la.

É nessa espécie de círculo vicioso que os pensadores especulativos caem sempre que tentam usar o princípio sincrônico do uniformismo em um esforço evolucionista para ligar as três grandes categorias de matéria, vida e cultura.

3 – Teoria

Minha terceira objeção antropológica à evolução é não ser ela uma teoria científica. Isso parcialmente é conseqüência das duas primeiras objeções registradas. Se não há dados para explicar, dificilmente pode constituir uma teoria científica. Se a evolução é utilizada para gerar dados, ao invés de explicá-los, dificilmente pode ser-lhe atribuído o status de ciência. Porque os dados são gerados, em vez de explicados, por meio da evolução, então a evolução se sujeita à prova científica, ou prova de falsificação.

As idéias de Darwin não constituíram verificação de uma hipótese científica. Nem tampouco foi jamais a evolução posta à prova, pois não se assemelha a teorias científicas que são apoiadas, modificadas ou descartadas no processo de desenvolvimento da investigação científica. O fato de se submeter a evolução à prova é encarado mais como heresia, do que como um procedimento heurístico da ciência.

Finalmente, desejo apoiar a posição de que a evolução não é uma teoria científica, porque, ao contrário, é uma estrutura de valores. Primeiramente, a evolução é uma estrutura de valores porque é uma perspectiva no tempo. A maneira pela qual os homens de todas as culturas ordenam a sua vida, está de acordo com a maneira em que olham ao passado e ao futuro e os focalizam tendo em vista as alternativas do presente. Através da evolução os homens supostamente ganham um passado que ultrapassa sua imaginação prática, indo até o domínio não racional amoral dos animais inferiores. Os evolucionistas têm pouco mais além de incerteza a oferecer para o futuro da raça; e para os indivíduos – nada mais do que a morte. Constitui mais do que uma correlação o fato de que as ordens morais das sociedades modernas estão desmoronando à medida em que a perspectiva da evolução mais e mais é introduzida nas mentes dos homens na posição de domínio inquestionável.

Em segundo lugar, a evolução é um valor porque seus adeptos localizam o absoluto na natureza material. A divindade materialista da evolução, embora desconhecida, é ressaltada em uma afirmação de George G. Simpson:

O mistério fundamental está além do alcance da investigação científica, e provavelmente da mente humana. Não há nem necessidade nem desculpa para a postulação de intervenção não material na origem da vida, no aparecimento do homem, ou em qualquer outra parte da longa história do cosmos material. Não obstante, a origem desse cosmos e os princípios causais de sua história permanecem inexplicados e inacessíveis à ciência. Aí se esconde a causa primeira buscada pela teologia e pela filosofia. A causa primeira não é conhecida, e suspeito que jamais o será, pelo homem vivente. Poderemos, se assim desejarmos, adorá-la em nossa maneira própria, mas certamente não a compreendemos (21).

Esse absoluto inescrutável, escondido na existência da matéria, além do alcance da ciência, é a posição de uma divindade, e portanto de valores absolutos.

Finalmente, a evolução é um sistema de valores porque seus proponentes fazem assertivas de valores relativamente ao homem. Simpson compreende que a evolução deixa o homem com necessidade de uma ética, bem como que o mecanismo evolutivo da sobrevivência do mais apto dificilmente constitui uma base adequada para a ética humana. Chega ele finalmente à conclusão que, desde que o processo amoral da evolução tenha produzido a criatura racional e moral chamada homem, o homem é obrigado a obter esse conhecimento e fazê-lo conhecido a outros. O objeto dessa obrigação moral é necessariamente limitado aos seres humanos, pois torna-se difícil vislumbrar a base de uma obrigação moral em um processo amoral.

O que quer que isso signifique, o que temos não é uma teoria científica, mas um aspecto de relacionamentos sociais tentando dar algum sentido de direção moral para o homem. Necessita-se desesperadamente de direção. Porém, não está convincentemente claro como é que o conhecimento de que minha existência como um ser moral constitui um produto de um processo amoral chamado evolução, pode dar-me um senso de direção moral. Nem tampouco está claro como o testemunhar daquele processo constitui direção moral. Essa última afirmação não é, entretanto, apresentada como objeção antropológica. Deveria, porém, ser catalogada como uma objeção de antropologia aplicada, porque sua ineficácia é óbvia.

Resumo


Em resumo, como antropologista, faço objeções à evolução com apoio nas bases antropológicas que apresentei. Não há dados relativos à evolução. Seus defensores usam a idéia da evolução para criar ou gerar dados pela apropriação de dados sincrônicos da ciência, em um esforço para usar aquela própria ordem sincrônica para explicar como veio ela à existência. O processo de utilizar categorias sincrônicas da natureza como modelo do desenvolvimento diacrônico daquela ordem, é um processo intrinsecamente irracional.

Todas as categorias referentes a matéria, vida e cultura, têm, de fato, um passado, e sua história, sendo reconhecível, leva-nos àquele passado, Entretanto, nem os dados nem a razão justificam a disposição de macacos fósseis e do homem fóssil em uma seqüência de desenvolvimento do macaco ao homem.

E finalmente, a tentativa de atingir as origens através de processos temporais não observados, produz somente uma estrutura de valores e não uma teoria científica. Como tal, as origens últimas jamais são atingidas. De fato, os adeptos tentam achar o absoluto escondido em uma existência material eterna e amoral.

A deificação da matéria não deve ser confundida com os fundamentos metafísicos da investigação científica da matéria. O estudo científico da ordem existente da criação deve ser necessariamente mantido distinto de qualquer consideração a respeito de como essa ordem veio a existir. Ao tentar ignorar essa distinção necessária, os evolucionistas seguem uma abordagem irracional dos dados que são produtos de sua própria especulação, resultando em uma estrutura do valores ao invés de uma teoria científica.

Referências


(1) White, Leslie A. 1959. The evolution of culture. McGraw Hill Book Company, Inc., New York, pp. 70, 71.
(2) Ibid., pp. 29, 30.(3) Goudge, T. A. 1961. The ascent of life, The University of Toronto Press, Toronto, p. 133.
(4) White, Leslie A. Op. cit., pp. 44, 45.
(5) Ibid., p. 67.(6) Ibid., pp. 91, 92.
(7) Braces C. L. and M. F. Ashley Montague. 1965. Man’s evolution, an introduction to physical anthropology. The Macmillan Company, New York, p. 130.
(8) Ross, Herbert H. 1966. Understanding evolution. Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, pp. 35, 36, 41, 43.
(9) Howells, William. 1966. Homo erectus, Scientific American, 215:53.
(10) Ryan, Francis J. 1953. Evolution observed, Scientific American, 189:78.
(11) Loc. cit.(12) Loc. cit.(13) Goudge, T. A., Op. cit., p. 133.
(14) Barry, William B. N. 1968. Growth of a prehistoric time scale. W. H. Freeman and Company, San Francisco.
(15) Goudge, T. A., Op. cit., p. 157.(16) Gish, Duane T. 1965. Critique of biochemical evolution. Creation Research Society Quarterly,
1(2):10-12. 1970. The nature of speculations concerning the origin of life. Creation Research Society Quarterly,
7(1):42ff. 1971. Book Review of Biochemical Predestination. Creation Research Society Quarterly, 8(4):277-280.
(17) Wald, George. 1954. The origin of life, Scientific American, 191:46.(18) Wald, George. Op. cit.
(19) Ibid., p. 47.(20) White, Leslie A., Op. cit., p. 6.(2l) Simpson, G. G. 1951. The meaning of evolution. Mentor Books, New York. pp. 134, 135.

Fonte: Sociedade Criacionista Brasileira

Os Anjos, Satanás e os Demônios - por Wayne Grudem

• Que são anjos?

• Por que Deus os criou?

• Como os cristãos devem considerar atualmente Satanás e os demônios?


1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA

A. Que são anjos?

Podemos definir anjos da seguinte maneira: Anjos são seres espirituais criados com juízo moral e alta inteligência, mas sem corpos físicos.


1. Seres espirituais criados.

Os anjos não existem desde sempre; eles são parte do universo que Deus criou. Em uma passagem que se refere aos anjos como o “exército” dos céus, Esdras diz: “Só tu és o SENHOR. Fizeste os céus, e os mais altos céus, e tudo o que neles há, a terra e tudo o que nela existe, os mares e tudo o que neles existe. Tu deste vida a todos os seres, e os exércitos dos céus te adoram” (Ne 9.6; cf. Sl 148.2,5). Paulo nos diz que Deus criou todas as coisas “visíveis e invisíveis” por meio de Cristo e para ele, e a seguir inclui especificamente o mundo angélico com a frase “sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades” (Cl 1.16).

Os anjos exercem juízo moral, como podemos perceber pelo fato de que alguns deles pecaram e caíram de seu estado original (2Pe 2.4; Jd 6) . Sua alta inteligência é vista por toda a Escritura à medida que eles falam com as pessoas (Mt 28.5; At 12.6-11; etc.) e cantam louvores a Deus (Ap 4.11; 5.11).

Como os anjos são “espíritos” (Hb 1.14), ou criaturas espirituais, efetivamente eles não possuem corpos físicos (em Lucas 24.39, Jesus diz: “um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”). Portanto, normalmente eles não podem ser vistos por nós a menos que Deus nos dê a capacidade espiritual para vê-los (Nm 22.3 1; 2Rs 6.17; Lc 2.13). Em suas atividades ordinárias de nos guardar e nos proteger (Sl 34.7; 91.11; Hb 1.14), bem como de se juntar conosco para a adoração de Deus (Hb 12.22), eles são invisíveis. Contudo, em certas ocasiões anjos tomaram forma corporal para aparecer a várias pessoas na Escritura (Mt 28.5; Hb 13.2).


2. Outros nomes para os anjos.

A Escritura às vezes usa outros termos para os anjos, como “filhos de Deus” ( Jó 1.6; 2.1); “santos” (Sl 89.5,7); “espíritos” (Hb 1.14),”sentinelas” (Dn 4.13,17,23), “tronos”, “soberanias”, “poderes”, “autoridades” (Cl 1.16) e”governos”(Ef 1.21).


3. Outras espécies de seres celestiais.

Existem outros três tipos específicos de seres celestiais mencionados na Escritura. Tanto se pensarmos neles como tipos especiais de “anjos” (no sentido mais amplo do termo) ou como seres celestiais distintos dos anjos, eles são de qualquer forma seres espirituais criados que servem e adoram a Deus.

a. Os “Querubins”.

Aos querubins foi dada a tarefa de guardar a entrada do Jardim do Éden (Gn 3.24), e é dito que o próprio Deus está entronizado entre os querubins ou que viaja com os querubins como sua carruagem (Sl 18.10; Ez 10.1-22). Sobre a arca da aliança no AT estavam duas figuras douradas de querubins com suas asas estendidas acima da arca, e foi ali que Deus prometeu vir morar entre o seu povo: “Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da aliança, eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destinados aos israelitas” (Êx 25.22; cf. v. 18-21).

b. Os “Serafins”.

Outro grupo de seres celestiais, os Serafins, é mencionado somente em Isaías 6.2-7, onde eles continuamente adoram ao Senhor e dizem uns aos outros: “Santo, santo, santo é O SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3)

c. Os seres viventes.

Tanto Ezequiel como Apocalipse falam-nos de outras espécies de seres celestiais conhecidos por “seres viventes” ao redor do trono de Deus (Ez 1.5-14; Ap 4.6-8). Parecidos com um leão , um boi , um homem e uma águia , são os representantes mais poderosos das várias partes da totalidade da criação de Deus (animais selvagens, animais domesticados, seres humanos e pássaros) e adoram a Deus continuamente: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir” (Ap 4.8).


4. Posição e ordem entre os anjos.

A Escritura indica que há uma hierarquia e ordem entre os anjos. Um anjo, Miguel, é chamado “arcanjo ” em Judas 9 , título que indica governo ou autoridade sobre outros anjos. Ele é chamado “um dos príncipes supremos” em Daniel 10.13. Miguel também parece ser o líder do exército angelical: “Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus” (Ap 12.7,8). E Paulo diz-nos que o Senhor retornará do céu “dada a ordem, com a voz do arcanjo” (lTs 4.16). Se essa menção se refere a Miguel, o único arcanjo mencionado, ou se há outros arcanjos, a Escritura não nos diz.


5. As pessoas possuem anjo da guarda pessoal?

A Escritura menciona claramente que Deus envia os seus anjos para a nossa proteção: “Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra” (Sl 91.11,12). Mas algumas pessoas vão além dessa idéia de proteção geral e pensam que Deus dá um “anjo da guarda” específico para cada indivíduo no mundo, ou ao menos para cada cristão. As palavras de Jesus a respeito dos pequeninos têm servido de apoio para essa idéia: “Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste” (Mt 18.10). Contudo, nosso Senhor pode estar dizendo que os anjos designados para a tarefa de proteger as criancinhas têm pronto acesso à presença de Deus. (Para usar uma analogia esportiva, os anjos podem valer-se da marcação “por zona” em vez da marcação “homem a homem”.) Quando os discípulos em Atos 12.15 dizem que o “anjo” de Pedro devia estar batendo à porta, isso não implica necessariamente na crença do anjo da guarda individual. Poderia ser que um anjo estivesse guardando ou tomando conta de Pedro naquela situação específica. Parece não haver, entretanto, qualquer apoio convincente para a idéia de “anjos da guarda” individuais no texto da Escritura. Mas cremos que os anjos em geral têm a tarefa de proteger o povo de Deus.


6. O poder dos anjos.

Aparentemente os anjos têm poder muito grande. Eles são chamados “anjos poderosos, que obedecem à sua palavra” (Sl 103.20),”governo” (Ef 1.21) e ainda “poderes” e “autoridades” (Cl 1.16). Os anjos são aparentemente “maiores em força e poder” que os seres humanos rebeldes (2Pe 2.11; cf. Mt 28.2). Ao menos durante o tempo de sua existência terrena, a raça humana foi feita “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.7). Embora o poder dos anjos seja grande, ele não é certamente infinito, mas é usado para batalhar contra os poderes demoníacos do mal que estão sob o controle de Satanás (Dn 10.13; Ap 12.7,8; 20.1-3). Não obstante, quando o Senhor retornar, seremos elevados à posição mais alta que a dos anjos (lCo 6.3).


B. O lugar dos anjos no propósito de Deus


1. Os anjos mostram a grandeza do plano de Deus e de seu amor por nós.

Os seres humanos e os anjos são as únicas criaturas morais e altamente inteligentes que Deus criou. Portanto, podemos entender muita coisa a respeito do plano de Deus e de seu amor por nós quando nos comparamos com os anjos.

A primeira distinção a ser observada é que nunca é mencionado que os anjos foram criados a imagem de Deus, ao passo que diversas vezes é dito que os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gn 1.26,27; 9.6). Já que ser criado à imagem de Deus significa ser igual a Deus, parece justo concluir que somos mais parecidos com Deus que os anjos.

Isso é apoiado pelo fato de que Deus algum dia nos dará autoridade sobre os anjos, para julgá-los: “Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?” (1 Co 6.3). Embora o ser humano tenha sido feito “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.7), quando a nossa salvação se completar seremos exaltados acima dos anjos e dominaremos sobre eles. De fato, mesmo agora os anjos já nos servem: “Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?” (Hb 1.14).

A capacidade dos seres humanos de gerar filhos iguais a si mesmos (“Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” Gn 5.3) é outro elemento de nossa superioridade sobre os anjos, que certamente não podem gerar filhos (cf. Mt 22.30; Lc 20.34-36).

A existência dos anjos também demonstra a grandeza do amor de Deus por nós, porque os anjos pecaram e nunca foram salvos. Pedro nos diz que “Deus não poupou anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4). Judas diz que “quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6). E lemos em Hebreus: “Pois é claro que não é a anjos que ele ajuda, mas aos descendentes de Abraão” (Hb 2.16).

Vemos, portanto, que Deus criou dois grupos de criaturas morais inteligentes. Entre os anjos, muitos pecaram, mas Deus decidiu não remir nenhum deles. Foi perfeitamente justo Deus agir assim, e nenhum anjo pode jamais reclamar de ter sido tratado injustamente por Deus. Contudo, embora todos os seres humanos tenham pecado contra Deus e se apartado dele, Deus decidiu fazer muito mais que meramente satisfazer as demandas da sua justiça; ele decidiu salvar alguns seres humanos pecadores. De fato, ele decidiu redimir uma grande multidão da raça pecaminosa, que homem nenhum pode contar, “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Esse é um ato de amor e misericórdia incalculáveis, muito além de nossa compreensão. Tudo isso é favor imerecido; tudo isso é graça. O contraste notável com o destino dos anjos deixa clara essa verdade para nós.


2. Os anjos são prova de que o mundo invisível é real.

Exatamente como nos dias de Jesus os saduceus diziam que não havia ”ressurreição nem anjos nem espíritos” (At 23.8), muitas pessoas em nossos dias negam a realidade de qualquer coisa que não se possa ver. Mas o ensino bíblico sobre a existência dos anjos é a lembrança constante para nós de que há o mundo invisível que é muito real. Foi somente quando o Senhor abriu os olhos do servo de Eliseu para a realidade desse mundo invisível que o servo viu “as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu” (2Rs 6.17; esse era um grande exército angelical enviado a Dotã para proteger Eliseu dos arameus). O salmista também mostra a consciência do mundo invisível quando encoraja os anjos: “Louvem-no todos os seus anjos, louvem-no todos os seus exércitos celestiais” (Sl 148.2). O autor de Hebreus nos lembra de que, quando adoramos, vamos à Jerusalém celeste para nos reunir “aos milhares de milhares de anjos em alegre reunião” (Hb 12.22), a quem não vemos, mas cuja presença nos encherá de temor e alegria. O mundo incrédulo pode desprezar o tema dos anjos, considerando-os mera superstição, mas a Escritura oferece essas afirmações como a percepção da realidade tal qual ela é.


3. Os anjos são exemplos para nós.

Tanto na obediência como na adoração, os anjos proporcionam exemplos úteis para que os imitemos. Jesus nos ensina a orar: “ Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). No céu a vontade de Deus é feita pelos anjos imediatamente, com alegria e sem qualquer questionamento. Devemos orar todos os dias para que a nossa obediência e a obediência dos outros seja igual à dos anjos no céu. O prazer deles é ser servos humildes de Deus, cada um realizando a tarefa, grande ou pequena, que lhe foi designada, com fidelidade e alegria. Nosso desejo e oração devem ser para que nós e todos os demais na terra façamos o mesmo.

Os anjos também servem como exemplo para nós na sua adoração a Deus. Os serafins perante o trono de Deus vêem Deus em sua santidade e continuam a clamar: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3). João vê ao redor do trono de Deus um grande exército angelical: “Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!”' (Ap 5.11,12). Como os anjos encontram a sua mais alta alegria em louvar a Deus continuamente, não deveríamos também nos deleitar cada dia no cântico de louvor a Deus, considerando esse o mais alto e o mais digno uso de nosso tempo e nossa maior alegria?


4. Os anjos executam alguns dos planos de Deus
.

A Escritura vê os anjos como servos de Deus que executam alguns de seus planos na terra. Eles trazem as mensagens de Deus às pessoas (Lc 1.11-19; At 8.26; 10.3-8,22; 27.23,24). Eles executam alguns dos juízos, trazendo pragas sobre Israel (2Sm 24.16,17), ferindo os líderes do exército assírio (2Cr 32.21), trazendo a morte ao rei Herodes porque ele não dera glória a Deus (At 12.23), ou derramando as taças da ira de Deus sobre a terra (Ap 16.1). Quando Cristo retornar, os anjos virão com ele como um grande exército acompanhando o seu Rei e Senhor (Mt 16.27; Lc 9.26; 2Ts 1.7).

Os anjos também patrulham a terra como representantes de Deus (Zc 1.10,11) e guerreiam contra as forças demoníacas (Dn l0.13;Ap 12.7,8). João,em sua visão, viu um anjo descendo do céu, e ele registra que o anjo “prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo, Satanás, e o acorrentou por mil anos” (Ap 20.2,3). Quando Cristo retornar, um arcanjo proclamará a sua vinda (lTs 4.16; cf.Ap 18.1,2,21; 19.17,18; etc.).


5. Os anjos glorificam a Deus diretamente.

Os anjos também servem em outra função: eles ministram diretamente a Deus ao glorificá-lo. Assim, em adição aos seres humanos, há outras criaturas morais inteligentes que glorificam a Deus no universo.

Os anjos glorificam a Deus pelo que ele é em si mesmo, por sua excelência: “Bendigam o SENHOR, vocês, seus anjos poderosos, que obedecem à sua palavra” (SI 103.20; cf. 148.2).

Os serafins continuamente louvam a Deus por sua santidade (Is 6.2,3), assim como fazem os quatro seres viventes (Ap 4.8).

Os anjos também glorificam a Deus por seu grande plano de salvação à medida que o vêem revelado. Quando Cristo nasceu em Belém, uma multidão de anjos louvou a Deus dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc 2.14; cf. Hb 1.6) . Jesus nos diz: “há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”(Lc 15.10), indicando que os anjos se regozijam cada vez que alguém se volta de seus pecados e confia em Cristo como Salvador.

Quando Paulo proclama o evangelho de forma que pessoas de diversas origens raciais, judeus e gregos, sejam trazidas à igreja, ele vê o plano sábio de Deus para a igreja como demonstração diante dos anjos (e demônios): “A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais” (Ef 3.10). Pedro nos diz que “os anjos anseiam observar” (lPe 1.12) as glórias do plano de salvação enquanto ele se realiza na vida dos crentes individuais cada dia. Além disso, o fato de que na adoração da igreja as mulheres devem “ter sobre a cabeça um sinal de autoridade” pelo fato delas serem mulheres e “por causa dos anjos” (1 Co 11.10), indica que os anjos testemunham a vida dos cristãos e glorificam a Deus por nossa adoração e obediência.

C. Nossa relação com os anjos


1. Devemos estar cônscios dos anjos na vida diária.

A Escritura deixa claro que Deus quer que estejamos conscientes da existência de anjos e da natureza de sua atividade. Não devemos, portanto supor que seu ensino a respeito dos anjos não diga respeito à nossa vida hoje. Ao contrário, há diversas formas pelas quais nossa vida cristã será enriquecida por termos consciência da existência e ministério dos anjos no mundo, mesmo nos dias presentes.

Quando comparecemos diante de Deus em adoração, não nos juntamos simplesmente à grande companhia dos crentes que morreram e estão na presença de Deus no céu, os “espíritos dos justos aperfeiçoados” , mas também à grande multidão de anjos, “milhares de milhares de anjos em alegre reunião” (Hb 12.22,23). Embora não vejamos nem ouçamos normalmente nada como evidência de sua adoração celestial, certamente enriquece nosso senso de reverência e alegria na presença de Deus apreciarmos o fato de que os anjos se juntam a nós na adoração de Deus.

Além disso, devemos estar cônscios de que os anjos observam nossa obediência ou desobediência a Deus durante o dia. Mesmo se pensamos que nossos pecados são cometidos em segredo e não trazem tristeza a ninguém (exceto, obviamente, ao próprio Deus), devemos ser alertados pelo pensamento de que talvez centenas de anjos testemunhem nossa desobediência e se entristeçam. Por outro lado, quando estamos desencorajados e pensamos que a nossa obediência fiel a Deus não é testemunhada por ninguém e não oferece encorajamento a ninguém, podemos ser confortados pela percepção de que talvez centenas de anjos testemunhem nossa luta solitária, diariamente “anelando perscrutar” o caminho da grande salvação de Cristo que encontra expressão em nossa vida.

Tentando tornar a realidade da observação angelical de nosso serviço a Deus ainda mais vívida, o autor de Hebreus sugere que os anjos podem algumas vezes tomar forma humana, aparentemente para fazer “visitas de inspeção”, algo parecido com um crítico de restaurante enviado por um jornal que se disfarça e visita um novo restaurante. Lemos o seguinte: “Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos” (Hb 13.2; cf. Gn 18.2-5; 19.1-3). Isso deve nos tornar mais desejosos de ministrar às necessidades de pessoas a quem não conhecemos. Pois nos maravilharia se algum dia, ao entrarmos no céu, encontrássemos o anjo a quem ajudamos quando apareceu temporariamente como um ser humano em miséria aqui na terra.

Quando somos repentinamente libertos de um perigo ou miséria, devemos suspeitar de que anjos enviados por Deu nos ajudam, e devemos ser agradecidos por isso. Um anjo fechou a boca dos leões de modo que eles não causaram nenhum dano a Daniel (Dn 6.22), um anjo ministrou a Jesus no deserto em tempo de grande fraqueza, imediatamente após o término de suas tentações (Mt 4.11), um anjo livrou os apóstolos da prisão (At 5.19,20) e, mais tarde, um anjo libertou Pedro da prisão (At 12.7.11). A Escritura não promete que “a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra” (S1 91.11,12)? Portanto, não devemos agradecer a Deus por enviar anjos para nos protegerem tais circunstâncias? Parece certo responder positivamente a essa pergunta.


2. Cuidados com respeito ao nosso relacionamento com os anjos.


a. Precavenha-se para não receber doutrina falsa dos anjos.

A Bíblia nos adverte contra recebermos doutrina falsa de supostos anjos: “Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.8). Paulo faz essa advertência porque sabe que há possibilidade de engano. Ele diz: “Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz” (2Co 1 1.14). De modo semelhante,o profeta mentiroso que enganou o homem de Deus em lReis 13 disse: “Eu também sou profeta como você. E um anjo me disse por ordem do SENHOR: ‘Faça-o voltar com você para a sua casa para que coma pão e beba água”'(lRs 13.18). Todavia, o texto da Escritura imediatamente acrescenta no mesmo versículo: “Mas ele estava mentindo”.

Esses são exemplos de doutrina ou orientação falsa sendo transmitida por anjos ou pessoas assegurando que anjos lhes falaram. É interessante que esses exemplos mostram a possibilidade clara de engano satânico tentando-nos a desobedecer aos ensinos claros da Escritura ou às ordens claras de Deus (cf. lRs 13.9). Essas advertências devem guardar qualquer cristão de ser enganado, por exemplo, pelos ensinos dos mórmons, que dizem que o anjo Moroni falou a Joseph Smith e lhe revelou a base da religião mórmon. Tal “revelação” é contrária aos ensinos da Escritura em muitos pontos (com respeito a doutrinas como a Trindade, a pessoa de Cristo, a justificação pela fé somente, e muitas outras), e os cristãos devem ser advertidos para não aceitar tais declarações.

b. Não adore anjos, não ore a eles nem os procure .

A ”adoração de anjos” (Cl 2.18) era uma das doutrinas falsas ensinadas em Colossos. Além disso, no livro de Apocalipse um anjo adverte João para que ele não o adore: “Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus!” (Ap 19.10).

Nem devemos orar aos anjos. Devemos orar a Deus somente, o único que é onipotente e, assim, capaz de responder à oração e o único que é onisciente e, portanto, capaz de ouvir as orações de todo o seu povo de uma só vez. Paulo nos adverte contra o pensamento de que outro “mediador” possa estar entre nós e Deus: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1Tm 2.5). Se oramos aos anjos, estamos implicitamente atribuindo-lhes posição igual à de Deus, o que não devemos fazer. Não há exemplo na Escritura de alguém orando a um anjo específico ou pedindo ajuda a anjos.

Além disso, a Escritura não nos autoriza a buscar aparições de anjos. Eles se manifestam a nós de forma que não os vemos. Buscar tais aparições parece indicar curiosidade doentia ou o desejo por uma espécie de evento espetacular em vez do amor a Deus e a devoção a ele e à sua obra. Embora os anjos tenham realmente aparecido em várias ocasiões na Escritura, com toda a certeza as pessoas a quem eles apareceram nunca procuraram essas aparições. Nosso papel é antes conversar com o Senhor, que é o próprio comandante das forças angelicais. Contudo, não parece errado pedir a Deus para cumprir a sua promessa em Salmos 91.11 de enviar anjos para proteger-nos em tempos de necessidade.

D. Demônios e sua origem

A discussão anterior nos leva naturalmente à consideração de Satanás e dos demônios, já que eles são anjos maus que anteriormente foram anjos bons, mas que pecaram e perderam o seu privilégio de servir a Deus. Iguais aos anjos, eles também são seres espirituais criados com juízo moral e com alta inteligência, mas sem corpos físicos. Podemos definir os demônios da seguinte e maneira: Os demônios são anjos maus que pecaram contra Deus e que agora operam continuamente o mal no mundo.

Quando Deus criou o mundo, ele “viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1.3 1). Isso significa que mesmo o mundo angelical que Deus havia criado não possuía anjos maus nem demônios àquela altura. Mas, quando chegamos a Gênesis 3 , percebemos que Satanás, na forma de uma serpente, tentou Eva para que pecasse (Gn 3.1-5). Portanto, em um determinado tempo entre os eventos de Gênesis 1.31 e Gênesis 3.1 , deve ter havido uma rebelião no mundo angelical, com muitos anjos se voltando contra Deus e tornando-se maus.

O NT fala disso em dois lugares. Pedro nos diz que “Deus não poupou a anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4) . Judas também diz que “quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6). Uma vez mais a ênfase recai sobre o fato de que eles são removidos da glória da presença de Deus e sua atividade é restringida (metaforicamente, eles estão em “correntes eternas”), mas o texto não sugere que a influência dos demônios tenha sido removida do mundo ou que alguns demônios sejam guardados em um lugar de punição à parte do mundo, enquanto outros são capazes de influenciá-lo.Ao contrário, tanto 2Pedro como Judas nos dizem que alguns anjos se rebelaram contra Deus e se tornaram oponentes hostis à sua palavra. O pecado deles parece ter sido o do orgulho, a recusa em aceitar seu lugar designado, pois eles “não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada” (Jd 6).

É também possível que haja uma referência à queda de Satanás, o príncipe dos demônios, em Isaías 14 . Conforme Isaías descreve o juízo de Deus sobre o rei da Babilônia (um rei humano, terreno), ele chega à seção onde começa a usar uma linguagem que parece forte demais para referir-se meramente a um ser humano:

Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você, que dizia no seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo'. Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo! (Is 14.12-15; cf. Ez 28.11-19).

Essa linguagem de subir ao céu e assentar-se no trono acima das estrelas e dizer “serei semelhante ao Altíssimo” sugere enfaticamente a rebelião de uma criatura angélica de grande poder e (isso não significa que esses anjos pecaminosos não exerçam atualmente influência no mundo, pois no versículo 9 Pedro diz que o Senhor também “sabe livrar os piedosos da provação e manter em castigo os ímpios para o dia de juízo”, referindo-se aos seres humanos pecaminosos que obviamente ainda tinham influência no mundo e até causam problema para os leitores de Pedro. O versículo 4 simplesmente significa que os anjos ímpios haviam sido removidos da presença de Deus e permanecem guardados debaixo de alguma espécie de influência restritiva e até o juízo final, o que, entretanto, não anula a sua atividade contínua no mundo nesse meio-tempo.) dignidade. Não seria incomum para a linguagem profética hebraica passar das descrições de eventos humanos para descrições de eventos celestiais que lhes são paralelos e que os eventos da terra ilustram de modo limitado. Se assim for, então o pecado de Satanás é descrito como orgulho e tentativa de ser igual a Deus em posição e autoridade.


E. Satanás como cabeça dos demônios

“Satanás” é o nome pessoal do cabeça dos demônios. Esse nome é mencionado em Jó 1.6, onde “os anjos vieram apresentar-se ao SENHOR, e Satanás também veio com eles” (v. tb. Jó 1.7—2.7). Aqui ele aparece como o inimigo do Senhor que traz severas provações para Jó . De modo semelhante, ao final da vida de Davi, “Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo” (1 Cr 21.1). Além disso, Zacarias teve uma visão do “sumo sacerdote Josué diante do anjo do SENHOR, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo” (Zc 3.1). O nome “Satanás” é uma palavra hebraica (s ãtãn) que significa “adversário” . O NT também usa o nome “Satanás”, tomando-o simplesmente do AT. Assim, Jesus, em sua tentação no deserto, fala a Satanás diretamente, dizendo: “Retire-se, Satanás!” (Mt 4.10), ou “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc 10.18).

A Bíblia usa também outros nomes para Satanás. Ele é chamado: “Diabo” (somente no NT: Mt 4.1; 13.39; 25.41; Ap 12.9; 20.2; etc.); ”serpente” (Gn 3.1,14; 2Co 11.3; Ap 12.9; 20.2); ”Belzebu” (Mt 10.25; 12.24,27; Lc 1 l.15); ”o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.1 l), ”príncipe do poder do ar” (Ef 2.2), ou “o Maligno” (Mt 13.19; 1Jo 2.13). Quando Jesus diz a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mt 16.23), ele reconhece que a tentativa de Pedro de tentar preservá-lo do sofrimento e da agonia da cruz é realmente uma tentativa de impedir Jesus de obedecer ao plano de seu Pai. Jesus percebe que a oposição, em última instância, não vinha de Pedro, mas do próprio Satanás.

F. A atividade de Satanás e dos demônios


1. Satanás foi o originador do pecado.

Satanás pecou antes de os seres humanos terem caído, como fica evidente no fato de que ele (na forma de uma serpente) tentou Eva (Gn 3.1-6; 2Co 11.3). O NT também nos informa que Satanás “foi homicida desde o princípio” e que ele é ”mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Ele diz igualmente que o Diabo “vem pecando desde o princípio” (lJo 3.8). Em ambos os textos, a frase “desde o princípio” não sugere que Satanás tenha sido mau desde o tempo em que Deus começou a criar o mundo (“desde o princípio do mundo”) ou desde o começo de sua existência (“do princípio de sua vida”), mas sim desde o começo da história do mundo (Gn 3 e mesmo antes). A característica do Diabo tem sido a de originar o pecado e a de induzir outros a pecar.


2. Os demônios se opõem e tentam destruir, toda obra de Deus.

Assim como Satanás induziu Eva a pecar contra Deus (Gn 3.1-6), ele também induziu Jesus a pecar para que falhasse na sua missão como Messias (Mt 4.1-11). As táticas de Satanás e seus demônios são as de usar as mentiras (Jo 8.44), o engano (Ap 12.9), o assassinato (Sl 106.37; Jo 8.44) e qualquer outra espécie de atividade destrutiva para provocar nas pessoas o abandono de Deus e a destruição delas próprias. Os demônios tentarão toda tática para cegar as pessoas para o evangelho (2Co 4.4) e mantê-las em escravidão às coisas que as impedem de vir a Deus (Gl 4.8). Eles também usarão tentação, dúvida, culpa, temor, confusão, doença, inveja, orgulho, calúnia ou quaisquer outros meios para impedir o testemunho e a utilidade dos cristãos.


3. Os demônios são limitados pelo controle de Deus e têm poder limitado.

A história de Jó deixa claro que Satanás poderia fazer somente o que Deus lhe deu permissão para fazer, e nada mais (Jó 1.12; 2.6). Os demônios estão presos “com correntes eternas” (Jd 6) e podem ser vitoriosamente rechaçados pelos cristãos por meio da autoridade que Cristo lhes dá (Tg 4.7: “ Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês”).

Além disso, o poder dos demônios é limitado. Após rebelarem-se contra Deus, eles não têm o poder que tinham quando eram anjos, porque o pecado é influência enfraquecedora e destrutiva.

O poder dos demônios, embora significativo, é provavelmente menor que o poder dos anjos.

Na área do conhecimento, não devemos pensar que os demônios podem conhecer o futuro ou que eles possam ler nossa mente ou conhecer nossos pensamentos. Em muitos lugares no AT, o Senhor revela-se como o Deus verdadeiro em contraposição aos deuses (demoníacos) das nações pelo fato de que ele somente pode conhecer o futuro : “Lembrem-se das coisas passadas, das coisas muito antigas! Eu sou Deus, e não há nenhum outro; eu sou Deus, e não há nenhum como eu. Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá” (Is 46.9,10). Nem mesmo os anjos conhecem o tempo do retorno de Jesus (Mc 13.32) , e também não há indicação na Escritura de que eles ou os demônios conheçam qualquer outra coisa a respeito do futuro.

Com respeito a conhecer os nossos pensamentos, a Bíblia nos diz que Jesus conhecia os pensamentos das pessoas (Mt 9.4; 12.25; Mc 2.8; Lc 6.8; 11.17) e que Deus conhece os pensamentos das pessoas (Gn 6.5; Sl 139.2,4,23; Is 66.18), mas não há indicação de que anjos ou demônios possam conhecer os nossos pensamentos. De fato, Daniel disse ao rei Nabucodonosor que nenhuma pessoa falando por outro poder que não o de Deus poderia dizer ao rei o que ele havia sonhado (v. Dn 2.27,28). Mas se os demônios não podem ler a mente das pessoas, como haveremos de entender os relatórios recentes dos bruxos, dos que lêem a sorte ou de outros evidentemente sob influência demoníaca que são capazes de dizer às pessoas os detalhes de sua vida que elas pensavam que ninguém sabia, como, por exemplo, o que haviam comido no café da manhã ou onde haviam guardado secretamente algum dinheiro em sua casa? A maioria dessas coisas pode ser explicada pela percepção de que os demônios podem observar o que acontece no mundo e, provavelmente, deduzir algumas conclusões de suas observações. Um demônio pode saber o que eu comi no café-da-manhã simplesmente por me ver tomando o café-da-manhã! Ele pode saber o que eu disse em uma conversa particular de telefone porque ele ouviu a minha conversa. Os cristãos não devem deixar-se iludir se encontrarem membros do ocultismo ou de outras falsas religiões que parecem demonstrar tal conhecimento de vez em quando. Esses resultados da observação não provam que os demônios possam ler os nossos pensamentos e nada na Bíblia nos leva a pensar que eles tenham esse poder.


G. Nossa relação com os demônios


1. Os demônios são ativos no mundo hoje?

Algumas pessoas, influenciadas pela cosmovisão naturalista que somente admite a realidade do que pode ser visto, tocado ou ouvido, negam que os demônios existam hoje. Eles sustentam que anjos e demônios são simplesmente mitos que pertencem à cosmovisão obsoleta ensinada na Bíblia e em outras culturas antigas.

Se, entretanto, a Escritura nos dá o relato verdadeiro do mundo como ele realmente é, então temos de levar a sério sua descrição do intenso envolvimento demoníaco na sociedade humana. Nosso compromisso com os cinco sentidos meramente nos diz que temos algumas deficiências em nossa capacidade de entender o mundo, mas não que os demônios não existam. De fato, não há razão alguma para pensar que há menos atividade demoníaca no mundo hoje do que houve no tempo do NT. Estamos no mesmo período do plano global de Deus para a história (a época da igreja ou a época da nova aliança), e o milênio, quando a influência de Satanás será removida da terra, ainda não veio. Da perspectiva bíblica, a recusa da sociedade moderna em reconhecer a presença da atividade demoníaca hoje deve-se simplesmente à cegueira das pessoas para a verdadeira natureza da realidade.

Mas em que espécie de atividade os demônios estão envolvidos hoje? Há algumas características distintivas que vão nos capacitar a reconhecer a atividade demoníaca quando ela ocorrer?


2. Nem todo mal epecadopro cedem de Satanás e demônios, mas em alguns casos sim.

Se temos a visão da ênfase global das cartas do NT, percebemos que pouco espaço é dado à discussão da atividade demoníaca na vida dos crentes ou aos métodos para resistir e se opor a tal atividade. A ênfase é dizer aos crentes para não pecar, mas viver retamente. Por exemplo, em lCoríntios , quando há o problema das “divisões”, Paulo não diz à igreja para repreender o espíri­to de divisão , mas simplesmente incita-os a viver concordemente e a serem “unidos num só pen­samento e num só parecer” (lCo 1.10). Quando há um problema de incesto, ele não diz aos coríntios para repreenderem um espírito de incesto, mas diz que eles exercessem disciplina para que o ofensor se arrependesse (lCo 5.l-5). Esses exemplos poderiam ser duplicados muitas vezes em outras cartas do NT.

Portanto, embora o NT claramente reconheça a influência da atividade demoníaca no mundo, e mesmo, como veremos, sobre a vida dos crentes, seu foco primário a respeito do crescimento cristão não é a atividade demoníaca, mas as escolhas e ações feitas pelos cristãos (v. tb. Gl 5.16-26; Ef 4.1—6.9; Cl 3.1—4.6 etc.). Similarmente, esse deveria ser o foco principal de nossos esforços hoje, quando lutamos por crescer em santidade e fé, para vencer desejos e ações pecaminosos que permanecem em nossa vida (cf. Rm 6.1-23) e superar as tentações que vêm contra nós provenientes do mundo descrente (lCo 10.13). Precisamos aceitar nossa responsabilidade de obedecer ao Senhor e não culpar as forças demoníacas por nossos atos errados.

Não obstante, várias passagens mostram que os autores do NT estavam definitivamente cônscios da presença da influência demoníaca no mundo e na vida dos cristãos. Paulo advertiu Timó­teo que nos últimos dias alguns “abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1Tm 4.1) e que isso levaria a idéias de proibir o casamento e proibir certas comidas (v. 3), coisas boas que Deus criou para serem recebidas com ações de graça (v. 4). Portanto, ele considerou alguns ensinos falsos como de origem demoníaca. Em 2Timóteo , Paulo sugere que os que se opunham à sã doutrina eram mantidos em cativeiro pelo demônio para cumprirem a vontade dele: “Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do Diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade” (2Tm 2.24-26).

Semelhantemente Jesus havia asseverado que os judeus que tinham se oposto de modo obstinado a ele estavam seguindo ao seu pai, que é o Diabo: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).

Em sua primeira carta João salienta que os atos hostis dos descrentes têm influência demoníaca ou possuem às vezes origem demoníaca. Ele faz uma afirmação geral dizendo que “aquele que pratica o pecado é do Diabo” (1Jo 3.8), e continua dizendo: “Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus, tampouco quem não ama seu irmão” (lJo 3.10). Aqui João caracteriza todos os que não são nascidos de Deus como filhos do Diabo e sujeitos à sua influência e desejos.

Quando combinamos todas essas afirmações, vemos que Satanás é visto como o originador das mentiras, dos assassínios, do engano, do falso ensino e do pecado em geral. Por causa disso, parece razoável concluir que o NT quer que entendamos que há algum grau de influência demoníaca em todas as coisas erradas e pecados que ocorrem hoje. Nem todo pecado é causado por Satanás ou pelos demônios, nem a atividade demoníaca é a principal influência ou a causa do pecado, mas a atividade demoníaca é provavelmente um elemento presente em quase todo pecado e em quase toda atividade destrutiva que se opõe à obra de Deus no mundo hoje.

Na vida dos cristãos, como já observamos, a ênfase do NT não é sobre a influência dos demônios, mas sobre o pecado que permanece na vida deles. No entanto, devemos reconhecer que o pecado (mesmo para os cristãos) oferece ponto de apoio para alguma espécie de influência demoníaca em nossa vida. Assim, Paulo pôde dizer: “‘Quando vocês ficarem irados, não pequem'. Apazigúem a sua ira antes que o sol se ponha, e não dêem lugar ao Diabo” (Ef 4.26,27). A ira pecaminosa aparentemente pode dar oportunidade para o Diabo (ou demônios) exercer alguma influência negativa em nossa vida — talvez atacando-nos na área de nossas emoções ou talvez por aumentar a ira pecaminosa que já sentimos contra outras pessoas. Semelhantemente, Paulo menciona “a couraça da justiça” (Ef 6.14) como parte da armadura que temos de usar contra “as ciladas do Diabo” e na luta “contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6.11,12). Se possuirmos áreas de contínuo pecado em nossa vida, há fraquezas e buracos em nossa “couraça da justiça”, e nessas áreas é que somos vulneráveis ao ataque demoníaco. Jesus, ao contrário, que estava perfeitamente livre do pecado, pôde dizer de Satanás: “Ele não tem nenhum direito sobre mim” (Jo 14.30). Podemos também observar a conexão em lJoão 5.18 entre não pecar e não ser tocado pelo maligno: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado;6 aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge”.


3. O cristão pode ser possuído pelo demônio?

O termo “possessão demoníaca” é um termo infeliz que aparece em algumas traduções da Bíblia, mas não reflete realmente o texto grego. O NT grego pode falar de pessoas que “têm demônio” (Mt 11.18; Lc 7.33; 8.27; Jo 7.20; 8.48,49,52; 10.20), ou pode falar de pessoas que estão sofrendo por causa de influência demoníaca (a expressão grega é daimonizomai ), porém a Bíblia nunca usa uma linguagem que sugira que um demônio realmente “possui alguém”.

O problema com ambos os termos, possessão demoníaca e endemoninhado, é que eles conotam uma influência demoníaca tão forte que parece insinuar que a pessoa que está sob o ataque demoníaco não tem escolha senão sucumbir ao demônio. Eles sugerem que a pessoa não mais é capaz de exercer sua vontade e está completamente sob domínio do espírito mau. Embora isso possa ser verdade em casos extremos, como o do endemoninhado de Gadara (v. Mc 5.1-20; observe que, após Jesus ter expulsado os demônios, ele ficou “em perfeito juízo”, v. 15), certamente não é o que acontece em muitos casos de ataque demoníaco ou conflito com demônios na vida de diversas pessoas. Assim, como responderemos à pergunta “Um crente pode ser possuído pelo demônio?”. Embora a minha preferência não seja, de forma alguma, o uso do termo possessão demoníaca seja qual for a situação, a resposta a essa pergunta dependerá do que se quer dizer por “possessão demoníaca”. Se por ela se entende que a vontade de uma pessoa fica completamente dominada por um demônio, de forma que essa pessoa não tenha nenhum poder de escolha para fazer o certo e obedecer a Deus, então a resposta com respeito ao cristão ser possuído pelo demônio é negativa, porque a Escritura assegura que o pecado não terá domínio sobre nós, já que fomos ressuscitados com Cristo (Rm 6.14; v. tb. v. 4,11).

A maioria dos cristãos, por outro lado, concorda que pode haver diferentes graus de ataque ou influência demoníaca na vida dos crentes. O crente pode em certas ocasiões ficar sob ataque demoníaco mais forte ou mais suave. (Observe a “filha de Abraão” a quem Satanás mantinha encurvada por dezoito anos de forma que, por causa desse espírito de enfermidade, ela não podia endireitar-se [Lc 13.11,16].) Embora os cristãos após o Pentecoste tenham poder mais pleno [A palavra daimonizomai, que pode ser traduzida por “estar sob a influência demoníaca” ou estar endemoninhados, ocorre treze vezes no NT, todas elas nos evangelhos (Mt 4.24; 8.16,28,33; 9.32; 12.22; 15.22 [“endemoninhada”]; Mc 1.32; 5.15,16,18; Lc 8.36; Jo 10.21). Todos esses exemplos parecem indicar a influência demoníaca muito grave. À luz disso, talvez seja melhor reservar a palavra endemoninhado para casos mais extremos ou graves. A palavra endemoninhado parece-me sugerir influência ou controle demoníaco muito forte. (V. outras palavras similares com o sufixo “izado”: pasteurizado, homogeneizado, tiranizado, materializado, nacionalizado etc. Todas essas palavras falam de uma transformação total no objeto a que se referem, não apenas de uma influência moderada ou suave.) Mas tornou-se comum em parte da literatura cristã de hoje descrever pessoas sob qualquer espécie de ataque do maligno como “endemoninhado”. Seria mais sábio reservar o termo para casos mais graves de influência demoníaca, a fim de que nossa linguagem não sugira uma influência mais forte do que realmente ocorre.] do Espírito Santo trabalhando dentro deles para capacitá-los a triunfar sobre os ataques demoníacos, eles nem sempre invocaram esse poder ou nem mesmo conheceram a respeito do poder que por direito lhes pertence. Faríamos bem em evitar a categorização dessa influência com os termos possessão demoníaca (assim como outros termos como oprimido ou atormentado), para simplesmente reconhecer que pode haver graus variados de ataque ou de influência demoníaca sobre pessoas, mesmo sobre cristãos, e não acrescer mais nada. Em todos os casos, o remédio será sempre o mesmo: repreenda o demônio em nome de Jesus e ordene que saia.


4. Jesus concede a todos os crentes a autoridade para repreender os demônios e para ordenar-lhes que saiam.

Quando Jesus enviou os doze discípulos adiante dele para pregar o Reino de Deus, ”deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios” (Lc 9.1). Após os setenta terem pregado sobre o Reino de Deus nas cidades e aldeias, eles retornaram com alegria, dizendo: ”Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10.17) , e Jesus lhes disse: ”Eu lhes dei autoridade [...] sobre todo o poder do inimigo”(Lc 10.19). Quando Filipe, o evangelista, desceu para Samaria para pregar o evangelho de Cristo , ”os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos” (At 8.7), e Paulo usou a autoridade espiritual sobre os demônios para dizer ao espírito de adivinhação que estava em uma jovem adivinhadora: “Em nome de Jesus Cristo eu lhe ordeno que saia dela!” (At 16.18).

Paulo estava cônscio da autoridade espiritual que possuía, tanto nos encontros face a face como o de Atos 16 , como também em sua vida de oração. Ele disse: “Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrario, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2Co 10.3,4). Além disso, ele falou em alguma medida da luta que os cristãos têm contra “as ciladas do Diabo” em sua descrição do conflito “contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (v. Ef 6.10-18). Tiago fala a todos os seus leitores (em muitas igrejas): “Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4.7). Semelhantemente, Pedro diz a seus leitores em muitas igrejas na Ásia Menor: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé” (lPe 5.8,9).

É importante que reconheçamos que a obra de Cristo na cruz é a base definitiva para a nossa autoridade sobre os demônios. Embora Cristo tenha ganho a vitória sobre Satanás no deserto, as cartas do NT apontam para a cruz como o momento em que Satanás foi definitivamente derrotado. Jesus assumiu a natureza humana (carne e sangue) “para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo” (Hb 2.14). Na cruz, Deus, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz” (Cl 2.15). Portanto, Satanás odeia a cruz de Cristo, porque lá ele foi inquestionavelmente derrotado para sempre. Por causa da morte de Cristo na cruz, nossos pecados são perdoados por completo, e Satanás não possui autoridade nem direito sobre nós.

[É bom acrescentar que, se há algum pecado específico que tenha dado lugar à influência do demônio, o pecado deve ser confessado e abandonado (v. anteriormente). Mas nem todo ataque demoníaco pode ser ligado a pecado específico, já que o próprio Jesus foi severamente tentado por Satanás, como aconteceu com Eva antes da queda].

Ainda mais, nossa posição como filhos na família de Deus é a posição espiritual firme pela qual lutamos em nossa batalha espiritual. Paulo diz a todo cristão: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). Quando Satanás vem para atacar-nos, ele está atacando um dos filhos do próprio Deus, um membro da família divina. Essa verdade dá-nos autoridade para derrotá-lo e enfrentar a guerra contra ele com muito sucesso.

Se como crentes achamos apropriado falar uma palavra de repreensão ao demônio, é importante que nos lembremos de que não precisamos temer os demônios. Embora Satanás e os demônios tenham muito menos poder que o Espírito Santo que opera dentro de nós, uma das táticas de Satanás é tentar causar medo em nós. Em vez de ceder a tal temor, os cristãos devem lembrar as verdades da Escritura, que nos dizem: ”Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (lJo 4.4); e: “Pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio” (2Tm 1.7). Paulo diz aos efésios que em sua batalha espiritual eles devem usar o “escudo da fé”, para que possam “apagar todas as setas inflamadas do Maligno” (Ef 6.16). Isso é muito importante, visto que o oposto do temor é a fé em Deus. Ele também lhes diz para serem intrépidos em sua luta espiritual, de forma que, tendo tomado toda a armadura de Deus, pudessem “resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois deterem feito tudo” (Ef 6.13). Paulo diz que os cristãos, em seu conflito contra as forças espirituais hostis, não devem bater em retirada ou se encolher de medo, mas permanecer intrepidamente no seu lugar, sabendo que suas armas e sua armadura “não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2Co 10.4; cf. lJo 5.18).

Na realidade, essa autoridade de repreender demônios pode resultar em uma breve ordem ao espírito maligno para ir embora quando suspeitamos da presença de influência demoníaca em nossa vida pessoal ou na vida dos que nos cercam. Devemos resistir ao Diabo (Tg 4.7), e ele fugirá de nós. Há ocasiões em que uma breve ordem no nome de Jesus será suficiente. Outras vezes será de grande utilidade citar as Escrituras no processo de ordenar ao espírito para que abandone aquela situação. Paulo fala da “ espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.17) . E Jesus, quando foi tentado por Satanás no deserto, repetidamente citou as Escrituras em resposta às tentações do Diabo (Mt 4.1-11). Entre os textos apropriados da Escritura podem ser incluídas afirmações gerais do triunfo de Jesus sobre Satanás (Mt 12.28,29; Lc 10.17-19; 2Co 10.3,4; Cl 2.15; Hb 2.14; Tg 4.7; lPe 5.8,9; lJo 3.8; 4.4; 5.18), mas também versículos relacionados diretamente à tentação particular ou dificuldade iminente.

É importante lembrar que o poder de expulsar demônios não vem da nossa força ou do poder de nossa própria voz, mas do Espírito Santo (Mt 12.28; Lc 11.20) . Além disso, Jesus emite uma advertência clara de que não devemos nos regozijar demais ou nos tornar orgulhosos de nosso poder sobre os demônios, mas que antes devemos nos regozijar em nossa grande salvação. Devemos manter isso claro em nossa mente para que não nos tornemos orgulhosos e o Santo Espírito não venha a retirar de nós esse poder. Quando os setenta discípulos retornaram com alegria dizendo: “Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10.17), Jesus lhes disse: “Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lc 10.20). Devemos viver na expectativa de o evangelho vir com poder para triunfar sobre as obras do Diabo. Quando Jesus veio pregando o evangelho na Galiléia, “de muitas pessoas saíam demônios” (Lc 4.41). Quando Filipe foi a Samaria para pregar o evangelho, “os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos” (At 8.7). Jesus comissionou Paulo para pregar entre os gentios “para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.18). Segundo Paulo, sua mensagem e pregação “não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (lCo 2.4,5; cf. 2Co 10.3,4). Se realmente cremos no testemunho da Escritura a respeito da existência e da atividade dos demônios e se realmente cremos que “para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo” (lJo 3.8), então parece apropriado esperar que mesmo hoje, quando o evangelho é proclamado a descrentes e quando a oração é feita por crentes que talvez não estejam conscientes desta dimensão de conflito espiritual, poderá haver triunfo genuíno e muitas vezes imediatamente reconhecível sobre o poder do inimigo. Devemos esperar que essa vitória aconteça, imaginá-la como parte normal da obra de Cristo no desenvolvimento do seu Reino e nos regozijar nela.



Extraído da Teologia Sistemática do autor.

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